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20  11 2008

Afinal somos boas pessoas!

Os angolanos são crentes. Não interessa se nas religiões animistas e tradicioniais, se no cristianismo católico ou protestante, se nas confissões evangélicas de igreja-espectáculo. Acreditam no misticismo, nos feiticeiros e nos poderes dos santos de todas as formas e feitios.

A padroeira de Angola, a Nossa Senhora da Muxima é das figuras mais veneradas. A sua crença está bem enraizada nos angolanos. Dizem ser muito poderosa, capaz de realizar as graças mais difíceis, os pedidos impossíveis e as curas milagrosas.

Todos os anos, pelo quinto dia de Setembro, milhares de angolanos rumam à Muxima, a Sul de Luanda. No ano de eleições legislativas, antecipou-se esta data e a festa decorreu a meio de Agosto. Estou curioso quanto ao nome que se dará aos crentes que partem para a Muxima. Os peregrinos vão a Santiago de Compostela e os romeiros vão a Roma. Muximeiros?

De qualquer das formas, quem vai à Muxima leva consigo um pedido que sabe será atendido pelos poderes infinitos da Senhora.

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Até há bem pouco tempo, cada um pedia vida melhor para si e para os seus. Hoje em dia, com uma cidade cada vez mais complicada do ponto de vista das relações humanas, há quem vá pedir desgraças para os vizinhos. A Senhora da Muxima é encarada como um feiticeiro que lança maus-olhados, desgraça e morte.

Nestas coisas que misturam ritos cristãos com crenças tradicionais em feitiços, até os muitos acidentes que acontecem a caminho do santuário têm uma explicação simples.

Os defensores da Santa dizem que ela se fartou. Que se aborreceu de tanto pedido feio, de tanta maldade. Passou a castigar aqueles que se dirigiam ao santuário com más intenções. A Senhora da Muxima começou a virar os barcos que atravessavam o Kwanza, atirando os espíritos impuros para a boca dos jacarés que, como bons devotos agradeciam ter visto as suas preces atendidas. Uma Santa tão poderosa atende as preces de todos, humanos ou jacarés.

Quando contámos que fomos visitar a Muxima, perguntaram-nos, preocupados, se tínhamos passado sobre as águas. Dissemos que sim. Contaram-nos a história dos barcos que se viram e dos jacarés que fazem a obra da Senhora… o nosso não se virou, por isso está provado, somos boas pessoas!

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

2 respostas a “Afinal somos boas pessoas!”

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  1. Belo sentido de humor!
    Ora aí está uma travessia que eu não sei se faria, nem com aa preces à Senhora da Muxima. Ficaria sempre na dúvida se ela iria proteger-me ou os jacarés…embora não me considerem má pessoa! 🙂

    Maria

  2. Cuidado! Nem sempre os jacarés têm fome. Digo eu…:)
    E ainda por lá deverão passar mais vezes.
    Muito bom. Mais uma vez, parabéns pelo espaço. Voltarei novamente para saber de Angola.

    saudações

    http:\\coresemtonsdecinza.blogspot.com

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