Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

14  01 2009

Outra vez?

A principal diferença que notei ao chegar a Luanda, depois de uma vida inteira na Europa, foi a relativa instabilidade no fornecimento de água e luz. Os cortes diários fazem parte da rotina.

Às faltas de luz acabei por me habituar depressa, por saber que há outras coisas para fazer, como avançar mais um pouco na leitura de um ou outro livro mais maçudo ou dar um passeio. Aproveito também para pôr o sono em dia, já que não há distrações.

Já com as faltas de água, as coisas são diferentes. Em casa temos um depósito e nem chegamos a notar, mas na empresa não há desses luxos. Se a água é cortada, as torneiras ficam secas e não há volta a dar.

Durante umas semanas não houve água no bairro inteiro. Estavam a instalar um novo sistema de distribuição de água potável. Para não haver confusões, desligaram o antigo e só depois do novo estar no sítio é que abriram as válvulas. A cada semana um camião-cisterna abastecia um depósito provisório e com ele nos governávamos.

A população do resto do bairro desesperava com a falta de água. A única disponível era distribuída por camiões que a iam bombear ao Bengo (sem filtragem nenhuma).

Lá acabaram as obras e as torneiras voltaram a ter água. O abastecimento passou a ser bem mais estável que antigamente, de tal forma que já parecia normal abrir a torneira e lavar as mãos.

Acontece que um dia, pela hora do almoço, abro a torneira para lavar as mãos e só que ocorre dizer «Atão…?» É isso mesmo, faltou outra vez.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

2 respostas a “Outra vez?”

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  1. Sem comentarios…

  2. “…Descalço vai para a fonte, Afonso, pela verdura…”

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