Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

17  01 2009

O esquivo mexerico

Durante semanas corri os mercados à procura de um pau de bater o funge, que isto de o fazer com uma colher de pau é muito bonito, mas é como remar com um garfo.

Perguntava às mulheres, naturalmente mais conhecedoras dessas coisas, onde se poderia comprar um. Na maior parte das vezes não sabiam. Não se compra, manda-se fazer. Aqui não se vende. O meu foi a minha mãe quem mo deu. Fiquei frustrado. Em cada casa há um, mas ninguém sabe como lá apareceu. A única coisa que aprendi é que o seu nome habitual é mexerico. Aprender coisas novas é sempre bom, mas continuava de mãos a abanar…

Um dia vi um homem a zungar colheres de pau e mexericos. Infelizmente ia do outro lado da via rápida e não pude fazer negócio.

Acabei por ter sorte. Num visita ao mercado de arte, um artesão aproveitou uma sobra de madeira para talhar um. Alguém lho tinha encomendado, mas parecia esquecido e ignorado no meio das peças de madeira pintada. Acabei por fazer negócio. 200 kz e uma cerveja para o Soba do mercado foram o suficiente para ser agora o orgulhoso proprietário de um mexerico!

As mulheres, de volta dos fogareiros e dos panelões de funge fartaram-se de rir quando me viram com ele na mão. Fiquei a pensar se não estaria a cometer alguma falha grave de etiqueta. Será que há uma qualquer tradição que diga que os homens não podem tocar no mexerico, assim como os muçulmanos não podem comer porco?

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

5 respostas a “O esquivo mexerico”

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  1. Talvez as mulheres se rissem a pensar onde iria o branco com o mexerico… se elas soubessem que ias bater funge ainda mais se ririam.
    Para mim o nome é o melhor de tudo e ilustra bem a função dele…

  2. O pau de bater o Funji, em kimbundu, chama-se “Nguiku”, se quizermos traduzir para português é “mexedor”, mexerico nunca ouvi. Realmente, são as mulheres que batem o funji, na generalidade, pois são elas que cozinham, mas també tem, hoje, homens, sobretudo, das cidades, que também batem bem e não deixam “bolhas” ou “borbulhas”

  3. Agora que já tem o “Nguiku” espero que não lhe falte o “guzu” (força) para com ele bater.

  4. Em minha casa quem batia o funge era o meu pai. Eu ainda não tive vontade de fazer funge por cá, mas agradeço antecipadamente a dica do mexerico.

  5. Sim, os homens não podem pegar no pau de funge, porque se não vão ter mulher.

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