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15  03 2009

Mártires

Aproveitando um fim-de-semana aborrecido, fui visitar uma das atracções turísticas de Luanda, o Monumento aos Mártires de Kifangondo.

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Heróis da Revolução

Trata-se de um memorial à Batalha do Kifangondo, na foz do Rio Bengo, onde o MPLA travou a tentativa do FNLA de entrar em Luanda a tempo da cerimónia de independência do país.

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Fogo!

O monumento é vendido como se fosse do povo angolano, mas é claramente do MPLA. Apenas o nome Mártires permite associá-lo a todos os angolanos que perderam a vida no longo caminho da independência. Não me cabe a mim julgar o passado nem o futuro de terra alheia, mas esta batalha ficou conhecida por ter sido travada pelos mercenários cubanos (há quem use o eufemismo de internacionalistas) que chegaram nas vésperas da independência e lutaram contra os que não apoiavam o MPLA.

Mas esqueçamos tudo isto. Cada povo recorda a sua História como bem entender. Este monumento é a memória de Angola.

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Os tanques russos da Praia de São Tiago

As forças que defendiam Luanda, bem entrincheiradas, mais bem armadas e dominando todos os lugares estratégicos, conseguiram repelir todos os ataques e semear a morte até onde os mísseis, aviões e bombas atingiam.

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Debaixo de mira

Ao lado das estátuas dos combatentes há uma série de painéis. Os da esquerda mostram episódios da batalha, com o avanço das forças do MPLA. Nunca mostram os adversários.

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Os Tribunais Populares Revolucionários

Os painéis à direita mostram manifestações contra a presença de mercenários em Angola, manifestações de apoio ao governo e julgamentos dos Tribunais Populares, que viriam a ser ainda mais famosos após o 27 de Maio de 1977.

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Os mártires de Angola

Sei que este artigo vai originar comentários irados, alguns até mesmo de mau gosto. Se discordarem, façam o favor de me dizer porquê. Não caiam na tentação de dizer apenas que sou estrangeiro e que devia voltar para a minha terra porque Angola é dos angolanos e que cuspo no que como e o diabo-a-sete. Sejam construtivos! Quero saber mais sobre Angola. Se mostrarem que estou enganado, sempre aprendi alguma coisa.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

9 respostas a “Mártires”

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  1. Como sou um leitor assíduo das tuas crónicas, que muito aprecio, sinto-me à vontade para comentar o teu texto.
    Como sabes a História é sempre contada pelos vencedores. As críticas que fazes ao monumento estão deslocadas no tempo, pois o memorial atesta um período da história de Angola e reflete o espírito dessa época. Concordaria contigo se o monumento fosse erigido hoje, quando se tentam sarar as feridas da guerra civil. Dizes que ele conta a história a preto e branco, dum lado os bons, do outro os maus. Mas o teu comentário é, igualmente a duas cores. Só mudam os protagonistas. Mercenários cubanos? Quanto terão ganho os milhares de soldados cubanos que combateram em Angola? Bem menos que os mercenários portugueses que combatiam ao lado do exército Zairense (mercenários, também?) que constituíam o grosso da coluna da FNLA que foi parada em Kifangondo.
    Já reparaste nos monumentos que estão em Lisboa? À Guerra Peninsular, ao Marquês de Pombal. Todos eles glorificam apenas uma parte da história. Se a FNLA + Exército Zairence + mercenários portugueses, têm entrado em Luanda outro monumento teríamos de sinal contrário. E passado todos estes anos grande parte dos antigos dirigentes da FNLA já se integraram no MPLA. Os antagonismos ideológicas e políticas já há muito se esbateram. O que resta é mesmo um monumento a marcar essa época.

  2. O Monumento foi, de facto, erigido hoje. A data inscrita na parede indica 2004…

    Mas sim, o intuito deste artigo era contar uma história a preto-e-branco, e agitar um pouco as águas.

    Sei bem que a História é feita de muitos tons de cinzento. Um dia destes conto outra versão.

  3. Sou português e vivo em Angola há 5 anos. Comentários são de cada um mas, em minha opinião, o comentário de João Garcia reflete tudo aquilo que eu consegui “captar” como a verdade dos factos. A Batalha de Kifangondo ficará para a História de Angola como a Batalha de Aljubarrota ficou para a História de Portugal – a guerra da libertação. Dos fracos não reza a História!

  4. OI AFONSO….
    SOU BRASILEIRO E PROCURANDO POR FOTOS DE GRUAS NA NET ENCONTREI SEU BLOG…POSSO DIZER QUE ACABEI POR ESQUECER AS IMAGENS QUANDO DEI ATENÇÃO AO CONTEÚDO…. EXCELENTES SEUS POST´S ESCRITOS COM CERTA INTELIGENCIA E (ACREDITO) SARCASMO… ACHO MUITO INTERESSANTE A HISTÓRIA DESTE POVO, E ACREDITO HOJE QUE ANGOLA BEM SE RECUPERA DA SANGRENTA GUERRA APESAR DE QUE, QUANDO NOS PASSAM INFORMAÇÕES SOBRE ESTE PAÍS AQUI NO BRASIL ( GERALMENTE GRANDES REDES DE TV NOTICIAM APENAS AS DESGRAÇAS AFRICANAS ) PARECE AINDA QUE ESTE PAÍS VIVE DE FORMA TRIBAL NO INTERIOR E DESORDENADAMENTE NAS METRÓPOLIS…TRABALHO EM UMA EMPRESA QUE FABRICA GRUAS E ALGUMAS ACABARAM DE SER EXPORTADAS E MONTADAS AI EM ANGOLA… OS OPERÁRIOS QUE AS MONTARAM TROUXERAM AO BRASIL NOTÍCIAS MUITO TRISTE SOBRE O CAOS E EXTREMA CORRUPÇÃO ( PUTZ.. O BRASIL TÁ QUASE POR AI ) EM QUE VIVE MERGULHADO ESTE POVO QUE SEGUNDO OS MESMO É TÃO ALEGRE, HOSPITALEIRO E TRABALHADOR COMO O BRASILEIRO… ESTAREI SEMPRE VENDO AS NOVIDADES EM SUAS MENSSAGENS E ESPERO QUE CONTINUE NESTA MESMA LINHA DE RACIOCINIO QUE VEM TENDO… PARABÉNS… NÃO É TODO DIA QUE ENCONTRO COISAS INTELIGENTES E QUE DÃO TANTO PRAZER EM SERES LIDAS.. ATÉ MAIS….
    ALANDERSON

  5. Caro Afonso,

    O seu leitor João Garcia esqueceu-se foi de acrescentar que a facilidade com que os militares portugueses “encostados” à FNLA desceram por Angola desde o Soyo até às portas de Luanda foi tal que constituiram, realmente, uma séria ameaça ao poder que se estava a constituir por parte do MPLA. Mas, a vaidade dos líderes militares da FNLA custou-lhes uma provável vitória, pois embalados por essa facilidade de conquistar posições, decidiram que já não precisavam do apoio dos militares portugueses (chamar-lhes mercenários será algo exagerado, atendendo ao momento em que os factos ocorreram, pois havia, de facto, divisões entre os militares portugueses: nem todos aceitaram o encolher de ombros que lhes foi imposto muito antes da independência ter sido declarada…) e já se imaginavam a entrar à frente da coluna na capital, conquistando Luanda e a glória. A vaidade cegou-os e não conseguiram ver a falta de preparação que tinham, acabando por ser litealmente chacinados em Kifangondo. E o resto da história, já sabemos…

    Abraço,

    Alexandre Correia

  6. EU GOSTAVA MUITO SINCERAMENTE DE CRITICAR AQUELAS PESSOAS QUE TÊM O DIREITO E A AUTORIZAÇÃO DE DIVULGAREM OS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DAS VÁRIAS BATÁLIAS QUE ANGOLA JÁ CONHECEU DESDE 1975 ATÉ A MORTE DE SAVIMBI EM COMBATE NO LUKUSSE NA PROVINCIA DO MOXICO.
    O OJECTO DESTA CRITICA É BEM SIMPLES ATENTO A QUE, TODOS NÓS ESTAMOS RECORDADOS QUE ENQUANTO O SAUDOSO PRESIDENTE AS 00H00 PROCLAMAVA PERANTE AO MUNDO A DIPANDA DE ANGOLA, OCORRIA UMAS DAS BATALIAS MAIS SANGRENTAS DE ÁFRICA” A BATALIA DE KIFANGONDO” QUE PROTEGEU E GARANTIU A PROCLAMAÇÃO DA NOSSA DIPANDA COM SEGURANÇA.
    A BATALIA DE KINFANGONDO CONTRA AS FORÇAS REGULARES DO ELNA E EX-ZAIRE A ACTUAL RDC, FOI PLANAEADA E DIRIGIDA PELO COMANDANTE DAVID MOISÉS “NDOZI”, HOJE É FALECIDO, INFELIZMENTE ESTE HOMEM ESTÁ COMPLETAMENTE ESQUECIDO, NEM SEQUER É FALADO QUANDO SE FALA DESTA BATÁLIA A FAMILIA ESTÁ TOTALMENTE ESQUECIDA. É DE RECORDAR QUE, O GENERAL NDOZI AO LONGO DA LUTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL FOI CHEFE DE ESTADO MAIOR DA 2ª REGIÃO POLITICO-MILITAR (CABINDA) ONDE DIRIGIU VÁRIAS OPERAÇÕES DE GUERRILHA CONTRA AS TROPAS COLONIAIS E APÓS INDEPENDENCIA FOI O PRIMEIRO CHEFE DE ESTADO MAIOR DAS FAPLAS ATÉ QUE FOI ACUSADO DE CAMANGUISTA SEM QUE NO ENTANTO HAVER PROVAS FOI PRESO E DURANTE O JULGAMENTO NÃO SE APUROU ABSOLUTAMENTE NADA E O MESMO FOI ABSOLVIDO DA REFERIDA ACUSAÇÃO E POSTERIORMENTE O MESMO ACABOU POR FALECER.

    EM JEITO DE REMATE FINAL, O GENERAL NDOZI É NATURAL DA POVOAÇÃO DE KINTOTO NA PROVINCIA DO ZAÍRE.

    É UMA PENA TENHO DITO.

  7. foi um previlegio ter visto esta imagem que deram uma outra reflexao sobre a batalha de kifangondo, uma historia deve retratar a verdade vivida de um determinado povo nao apenas a verdade que convem aparte vencedora isto nao e historia de angola mas ssim do MPLA.

  8. Apesar de ser inquestionável que a História é escrita pelos vencedores, a modéstia também é uma grande virtude. Ninguém questiona a vitória do MPLA, mas acho desnecessário que se tente confundir a vitória de uma parte com a de todos.

  9. em angola temos muitos comandantes que deram as suas vidas pela paz angolana,mais muitos nao sao conhecidos,é no causo dum comandante que foi meu chefe chamado COMANDANTE NOÉ que muitos esqueceram,mais é mesmo assim no mpla.

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