Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

17  07 2009

Justiça do Nito

O acontecimento mais marcante da História de Angola independente foi o trágico 27 de Maio de 1977. As suas repercussões foram muito mais importantes que a breve interrupção da guerra de 1992 ou até mesmo a paz atingida uma década depois.

O inimigo do lado vencedor, Nito Alves, foi considerado o culpado de todos os males da pátria, até mesmo os reservados aos odiados colonialistas. Como é habitual nestas situações, tudo quanto disse ou escreveu foi deturpado ou re-interpretado de maneira a sustentar a sua maldade intrínseca.

Querendo definir um objectivo para o país, disse que Angola só seria um país justo no dia em que os varredores de rua fossem brancos e mulatos. Foi imediatamente catalogado de racista por todos, incluíndo os que, para além de racistas, eram tribalistas. Poucos perceberam que incluía implicitamente os negros e que queria dizer que a justiça começava quando a cor da pele não determinasse o trabalho.

Mas a ideia é demasiado forte para desaparecer sem deixar marca. Adaptada aos dias de hoje, talvez não falasse de varredores de rua, que são um fenómeno recente. Provavelmente, definiria uma sociedade justa quando as zungueiras e zungueiros fossem brancos, pretos, mulatos e albinos.

Mas afinal, descobri, Angola é um país muito mais justo e equilibrado do que podia pensar. Há um zungueiro branco a trabalhar perto das bombas do Nacional. Vende incenso e dicionários.

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

13 respostas a “Justiça do Nito”

Nota: Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados.
  1. Eh lá! Olha que por estas bandas esse assunto ainda é melindroso…
    Se quiseres posso arranjar-te um livro interessante sobre essa altura (aproveitando o post anterior 😉 ).

  2. Afonso.

    Sempre acreditei na velha frase que mais vale estar calado e passar por ignorante, que abrir a boca e confirmar todas as suspeitas.
    O que deixas aqui sobre o 27 de Maio é acima de tudo a verdadeira ignorância em movimento.
    Que sejas um expatriado em Angola, com alma de engenheiro e que tenhas nascido no século passado, até que não é mau. Agora queres falar desta terra já tenho as minhas dúvidas
    kandandus

  3. Caro Jotta,

    Se reparar bem, não escrevi sobre o 27 de Maio, escrevi sobre uma frase do Nito Alves e enquadrei-a segundo a visão do historiador Carlos Pacheco acerca desses trágicos acontecimentos.

    No entanto, em vez de começar logo por me chamar ignorante, seria bem mais agradável tentar instruir-me. Ninguém nasce ensinado. Conte-me a sua versão do 27 de Maio.

    Mas, tal como tenho vindo a dizer com, infelizmente, cada vez mais frequência, não obrigo ninguém a ler o que escrevo.

  4. Afonso

    Para lá do que possas pensar, nas ruas desta cidade onde vives como emigrante, circula gente que viveu os acontecimentos das últimas 4 décadas, foram actores voluntários ou involutários dos acontecimentos que tu tentas abordar, e depois enquadrar, que ainda é mais grave.
    Mesmo que agora te socorras do Carlos Pacheco, é por demais visivel que o problema aqui é ver alguém que não é daqui a falar de algo que nunca vai entender.
    Quanto a ler o que escreves…
    Por este mundo cibernético, acabamos por esbarrar com o que se escreve neste universo, e deparamos com estas baboseiras que tu e outros escrevem.

    kandandus

  5. Caro Jotta,

    Fiquei na mesma. Acusa-me de ser ignorante. Peço-lhe que me elucide e acaba por repetir a acusação.

    Qual é o pecado de tentar fazer sentido da História ou enquadrar acontecimentos passados? É grave enquadrar acontecimentos? É grave falar da terra alheia só porque se é emigrante? Cada um pode fazer as suas interpretações. Estas são as minhas e não as impinjo a ninguém. Quem acha que são baboseiras, pode perfeitamente tentar emendar. As críticas são muito mais eficazes quando construtivas. Dizer mal só porque sim, dá a impressão que a preguiça venceu a necessidade de dizer como seria correcto.

    Não vivi o 27 de Maio, nem os trinta anos seguintes, mas conheço quem os tenha vivido. E todos eles têm opiniões diferentes do que se passou, das suas causas e consequências.

    Se reparar bem, o Aerograma é a minha interpretação do que vejo em Angola. Estou certo que haverá outras, com as quais poderá concordar mais ou menos. Lamento não saber escrever baboseiras melhores…

  6. Jotta
    Este expatriado devia fazer em Angola apenas o que é pago principescamente para fazer, provávelmente nalguma empresa que até tem quadros angolanos a receber em casa, só que o chefe nem os quer ver por perto, pois podem sacar-lhe o lugar.Este é um Kleenex, quando for necessário ou anda, ou desanda por vontade própria, para o pé dos Loureiros que andam na justiça por serem corruptos lá na tuga (Não sabia que os havia na Tuga, julguei que era só em África).
    Ele mostra-se inocente mas tem nos livros dele alguns livros curiosos como o do camanguista Botelho, o que explica que a fonte dele não é o “insuspeito” Carlos Pacheco.
    Loureiro
    Veja lá se acalma esse impeto, porque quando veio endolarar para Angola, e porque não tinha emprego na Tuga,senão ficava por lá, só lhe tenho a dizer que antes de cá chegar já havia gente, defeitos, virtudes e por acaso até um 27 de Maio que o angolano prefere não falar muito.Porque há-de ser um vulgar expatriado a falar de coisas que nem sonha como se passaram?
    Fale mais de receitas e prove fruta tropical, a que não está nas árvores…Sempre fica com menos tempo para se onanizar com coisas que não lhe dizem mesmo respeito.
    Fiz-me entender
    Songo (Vc saberá quem sou, se for um pouco sagaz)

  7. O facto de ter lido o livro do Botelho (que não sabia ser pecado capital) não quer dizer que não tenha lido o do Pacheco…

    Já agora, outra versão, a do Almeida.

    E, sinceramente, não estou para tentar adivinhar a identidade de quem deixa comentários anónimos ou assinados com pseudónimos.

  8. Gostam muito de atirar à cara dos expatriados quanto ganham. O que vos dói é serem preteridos pelos empresários angolanos que sabem que é preferível ter um estrangeiro a ganhar o so called «ordenado principesco» e a quem tem de se pagar uma casa paga a peso de ouro, do que um angolano convencido que sabe tudo.

    Deixem lá, que à medida que nos formos embora, terão a oportunidade de mostrarem o que valem.

  9. Songo,

    Desde a primeira à última linha não acertaste uma. É impressionante como alguém tão seguro dos seus palpites atira as bolas todas para fora. Estás completamente a leste da realidade.

    Ah, se metade do vosso orgulho fosse brio!…

  10. Eu não disse que era melindroso? 😉
    Eu desconfio que haja “elementos” que googlem diariamente “27 de Maio” para ver quem é que anda a comentar esse acontecimento e deixem uma boca ou outra para calar o assunto. Pelo que eu li morreram mais pessoas do que em muitos golpes de estado nos países sul-americanos, mas ninguém tem a coragem de escrutinar quem morreu (já nem falo dos responsáveis, senão ainda tenho alguém à minha espera num canto qualquer 😛 ).
    Os camanguistas são uns elementos interessantes, ora bandidos, ora heróis. Ouvi uma reportagem na rádio dum indivíduo, que por acaso é dono de um clube, que dizia, a respeito de ainda estar a gastar o dinheiro da bisavó (acho que quem anda por cá conhece a história): “Eu também fui camaguista e deu para reunir uns valores.” Este é herói. Porque é que o Botelho é bandido? (pergunta sincera, nem conheço a personagem)
    Comentar as bocas aos expatriados… já cansa.

  11. Ao Afonso e afins.

    O complexo que trazem agarrado à pele é doentio. Alguns de vocês quando passam a linha do equador, passam-se a julgar mais inteligentes do que o são na realidade.
    Querer falar do 27 Maio não é crime, mas se entendesses a nossa sociedade, não o fazias com essa leveza.
    Irás entender alguma vez o percurso que fizemos até aqui, para que tu e outros estejam a viver hoje no nosso seio?
    Não acredito. O vosso espírito é muito euro-brejeiro.
    Ao outro emigrante que fala que nos dói alguma coisa…pois, a mim até não me dói quando pago aos 4 expatriados que trabalham nas minhas empresas.
    Não sou contra os expatriados.
    Sou é contra a mentalidade desta nova vaga de portugueses que por aqui aporta, aos seus complexos ranhosos, incubados num certo novo colonialismo, esquecendo que o Diogo Cão já cá chegou de caravela há 500 anos e que há 34 anos os seus conterrâneos foram corridos daqui.
    Não se esqueçam que vocês não fazem assim tanta falta como pensam.
    E que a maior parte dos angolanos começa a ficar fartos de vos aturar.

    kandandus

  12. Jotta,

    Não tenho a mania que sou mais inteligente. Tenho a CERTEZA que sou mais qualificado (mas fica descansado porque vim cá passar conhecimento). Quem me chamou, me paga e me quer manter deve achar o mesmo. E se tens expatriados na tua empresa, das duas uma: ou é porque reconheces que precisas deles, ou são descartáveis, e nesse caso tens bom remédio – manda-os de volta para a terra deles e substitui-os por angolanos.

    Mentalidade neo-colonialista? Meu caro, eu quero é que este país soberano me deixe trabalhar e não me aborreça com os seus complexos xenófobos. A partir do ano que vem, cada um de nós será soberano no seu canto. Isto se eu não ficar sem paciência para vos aturar antes disso.

  13. Como ainda não fui curado da minha ignorância acerca do assunto tabu e uma história acerca de um zungueiro branco foi convertida numa discussão estéril que depressa começou a usar os argumentos do “volta para a tua terra”, encerro os comentários a este artigo, que isto não é um fórum para lavar roupa suja.

    Quanto menos se falar do 27 de Maio, mais fantasmas ficarão escondidos e não me parece que seja essa a melhor maneira de acabar com o desconforto à volta de algo que se passou há três décadas, mas esta é a minha opinião de reles e vulgar expatriado indesejado “que-só-cá-está-a-roubar-empregos-aos-angolanos-a-sério”.

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