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01 2010

Ruínas

Por todo o mundo há locais turísticos cuja principal atracção são as ruínas de civilizações ou cidades desaparecidas.

Em volta do Mediterrâneo, um pouco por todo o lado encontramos ruínas romanas. Cidades, villas, fortificações e estradas. Antes deles, outros povos deixaram as suas marcas sob a forma de castros e monumentos megalíticos.

O que mais impressiona os visitantes não é a idade das pedras ou da perfeição da construção. O abandono a que foram votadas é ainda mais incompreensível que a maneira como foram construídas.

Ruínas da Biblioteca de Éfeso, na Turquia
Biblioteca Romana

Custa a entender como certos edifícios vêem a sua monumentalidade reduzida a um monte de pedras sem significado, como se todo o esforço para os construir fosse um investimento desprezável.

Ruínas do Circo de El Jem, Tunísia
Circo Romano

Há estruturas que só fazem sentido em certas épocas ou períodos civilizacionais. Para os Romanos, o Circo era parte fundamental da sociedade mas, para os povos que ocuparam o seu lugar, não tinha um papel assim tão importante, portanto os Circos e Coliseus foram abandonados e utilizados como depósito de cantarias para construção de novas casas ou reconvertidos para outras utilizações. Não é invulgar ver escavações arqueológicas que revelam um teatro Romano soterrado por uma lixeira medieval.

Se deixarmos de tentar perceber o que levou a que edifícios construídos há vinte séculos fossem abandonados e começarmos a olhar para épocas mais próximas, talvez encontremos um padrão.

Sanatório dos Ferroviários, na Covilhã
Sanatório dos Ferroviários

O abandono ocorre, geralmente, apenas nos edifícios monumentais ou que não estão associados à vida do dia-a-dia dos povos. As casas onde moram vão sendo ocupadas e transformadas ao longo das gerações e, a menos de circunstâncias extraordinários, vão perpetuando as cidades.

Quando um edifício é abandonado por tempo suficiente para que a sua função seja esquecida pelas pessoas, o caminho para se transformar num objecto de valor arqueológico está traçado. Basta uma geração para que seja esquecido o modo de usar das construções especiais.

Em Portugal, o exemplo mais recente de estruturas abandonadas são os sanatórios espalhados um pouco por todo o país, que perderam a sua função com a descoberta de antibióticos e outras formas de combater a tuberculose.

Em Angola, com a descolonização, muito do saber associado às paredes que ficaram perdeu-se e começamos a ver um processo de abandono e reciclagem das construções coloniais. Algumas serão ruínas. Outras, qualquer coisa diferente. Não deixa de ser curioso como uma pergunta feita acerca de ruínas Romanas se pode responder observando ruínas angolanas.

Armazém Carvalho e Freitas, SARL, em Luanda
Armazém em Luanda

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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