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02 2010

A Constituição e o futebol

A Constituição da Terceira República angolana está envolta em polémica desde que a questão das prometidas eleições presidenciais foi remetida para depois da aprovação da nova carta constitucional. Chegou-se a uma situação em que o próprio partido no poder admitiu que a sua proposta criaria um sistema atípico. Como têm maioria qualificada no parlamento nunca se precisaram de preocupar com as propostas apresentadas pelos restantes partidos.

Entretanto, organizou-se um campeonato continental de futebol, que desviou todas as atenções do processo da mudança constitucional, muito mais enfadonho que os jogos, mas muitíssimo mais importante para o futuro do país. Para além disso, não se distribuiram cornetas nem bandeiras para apoiar a constituição e os debates parlamentares não são conhecidos por trazer grande emoção à assistência.

Seria compreensível que se adiantasse ou adiasse o debate constitucional para que não coincidisse com o campeonato, nem que fosse para que pudesse haver um pouco mais de atenção por parte de todos os intervenientes. Tal não aconteceu e a bola abafou o processo.

Na véspera da votação final, a tal em que a UNITA abandonou a assembleia por se recusar a votar na tal solução atípica, a selecção de futebol angolana jogava. Para que a população pudesse assistir ao jogo nocturno, decretou-se tolerância de ponto a partir do meio-dia, dando tempo suficiente para que todos pudessem chegar a casa ou ao estádio a horas.

Na semana seguinte Luanda comemorou o aniversário da sua fundação. Todos os anos, o dia 25 de Janeiro é feriado na província ou, pelo menos, é decretada tolerância de ponto. Todos esperavam que a tradição se repetisse, mas este ano foi diferente. Aliás, os jornais e rádios avisaram com alguns dias de antecedência que seria um dia de trabalho normal, para não comprometer a produtividade das empresas.

A única razão que encontro para que seja decretada tolerância de ponto por causa do futebol e não no habitual feriado provincial é que a Constituição já estava aprovada.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “A Constituição e o futebol”

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  1. Foi para compensar a tolerência anterior….não percebes nada disso tu!

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