Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

04 2010

Sete cães a um osso

Uma das principais queixas que as empresas a operar em Angola têm é o elevado absentismo dos seus trabalhadores angolanos. Os baixos salários praticados, a desconfiança que os angolanos têm uns dos outros, a esperança de encontrar alguma coisa melhor e uma economia paralela que absorve grande parte dos desempregados levam a que muitos se decidam a não voltar a pôr os pés num emprego que não é o ideal.

O desemprego é especialmente preocupante nos angolanos que investiram no estudo. Quanto mais se aprende mais se alargam os horizontes e há trabalhos onde as pessoas se sentem desaproveitadas.

Há cerca de um ano a nossa empresa publicou um anúncio para recrutamento de recém-licenciados ou estudantes finalistas em algumas áreas. Tínhamos como objectivo contratar duas ou três pessoas. Durante o período em que as candidaturas eram aceites recebemos e analisámos cerca de quatro centenas de currículos. Os melhores trabalham hoje connosco.

Entretanto, nos meses seguintes, continuaram a chegar cartas. Algumas tinham-se atrasado nos correios, outras tinham sido enviadas meses após o fim do concurso. Até agora chegaram mais de quinhentas.

Recebemos um milhar de candidatos para duas vagas, o que é assustador. O mercado de trabalho está tão saturado que os patrões se podem dar ao luxo de oferecer misérias e continuar a ter quem queira trabalhar para eles.

Tom & Jerry candongueiros de gasolina
Mercado de trabalho informal: a candonga

Para além do número de candidatos, há outras coisas interessantes a analisar. Na imensa pilha de cartas recebidas foi muito frequente encontrar currículos de irmãos enviados simultaneamente, quase que como uma candidatura familiar. Cerca de um quinto das respostas eram de pessoas que à data estavam empregadas e encontrámos também quem tivesse enviado o currículo duas e três vezes no espaço de algumas semanas a julgar pelos carimbos dos correios. Houve ainda quem tivesse enviado currículo, fotografias, certificados e cópias de documentos mas que não tenha incluído uma única forma de contacto.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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