Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

16  03 2010

A terra dos preços delirantes

Entre muitas coisas às quais nunca nos conseguimos habituar em Angola, a aparente loucura que rege os preços deverá ser a mais importante. Por vezes acreditamos que apenas o delírio é capaz de explicar a cara de absoluta normalidade com que nos pedem resgates principescos pelas coisas mais banais. Para além disso há também os preços de branco, que reflectem o imposto de turismo oficioso que os estrangeiros têm de pagar em todas as transacções.

Em Benguela fiquei alojado numa pensão modesta, cuja diária rivalizava com um bom hotel em qualquer outra parte do mundo. Na altura achei que seria impossível encontrar maior disparidade entre o serviço oferecido e o preço cobrado. Esqueci-me de que estou em Angola e tudo é possível.

Hotel Miradouro
Bom aspecto

Quase um ano depois, em N’Dalatando, o topo da escala dos preços absurdos voltou a subir. Um modestíssimo quarto duplo que deixaria envergonhada muita pensão de baixa categoria, sem casa de banho ou janela, custa a módica quantia de 250 dólares. Pelo mesmo preço dormi num hotel de quatro estrelas à vista da Torre Eiffel, com apenas o Sena de permeio. Os cem dólares por noite no hotel do Huambo começam a parecer pouco.

Gasolina
Fora do hotel

O preço das refeições nos restaurantes rege-se pela mesma tabela inflaccionada mas, como contraponto a estes preços exorbitantes, à porta do hotel milionário do Kwanza Norte comem-se espetadas de carne assada na brasa a 100 kz. O litro de gasolina na bomba do outro lado da rua custa 40 kz e, mais para o interior, desce para 34.

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

4 respostas a “A terra dos preços delirantes”

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  1. Tem bom remédio vá trabalhar para Paris… pois, mas ai terias de fazer alguma coisa seu parasita. Passas o tempo a criticar esse país até nos aspectos onde a miséria não reina, querias dormir de borla? não querias?
    Vai dormir na rua

  2. Caro Bernardo,

    Tal como me acusa de criticar apenas o que me incomoda, não o vejo comentar quando escrevo coisas boas. Julgo até que tenha lido o artigo na diagonal e não tenha percebido a comparação entre o custo de vida entre quem pode ficar em hotéis e quem se tem de conformar em dormir na rua.

  3. Bom dia!
    Só hoje consegui ler o artigo e o comentário do também leitor – Bernardo e pediria autorização para fazer a seguinte observação:
    – Sou Benguelense, sempre me identifiquei como Africano – Angolano (nunca perdi a pronúncia). Gostaria de voltar à minha terra – Benguela, de férias, mas sinceramente 250 dólares por dia. Enfim, nunca gostei também de ser explorado.
    Bernardo, pensa nisso…algo tem mesmo que mudar…
    Um abraço, mais uma vez Obrigado, apesar da tristeza e revolta (pela exploração no alojamento) que este artigo me causou…

  4. Essa é a palavra certa. 250 USD por um quarto sem condições que justifiquem o preço é exploração.

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