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27  03 2010

N’Dalatando, a cidade jardim

A capital do Kwanza Norte herdou do tempo colonial o epíteto de cidade-jardim. Apesar de me terem dito que nos tempos de ocupação da UNITA tinha ficado muito estragada, quase uma década volvida do fim da guerra o centro está arranjado e bonito.

Não foram aqui travados combates prolongados como no Huambo e Cuíto, mas ruínas do tempo da guerra, com algumas marcas de balas ou simplesmente abandonadas existem. Mesmo no centro encontramos a direcção provincial de educação em recuperação, rodeada de tapumes e andaimes, e a delegação do Banco de Angola ainda à espera.

Cidade-jardim
Em frente ao palácio do governo provincial

Chegados à cidade, ainda sem saber muito bem que ruas percorrer ou o que fotografar, descobrimos que há esquadras da polícia em quase todas as esquinas do centro. Em Luanda seria sinal de que as fotografias estariam proibidas, à revelia das instruções emanadas pelo comando geral da polícia, mas em N’Dalatando basta perguntar a um polícia o que se pode ou não fotografar. Somos informados de que se pode fotografar tudo, com as excepções do costume.

No final da conversa, onde se falou dos edifícios a recuperar e das escolas novas no município, deseja-nos um bom passeio. Com este pequeno gesto, um polícia fez mais pelo turismo angolano, ao fazer sentir os visitantes bem-vindos, que um campeonato de futebol inteiro, destinado ao consumo interno.

Banco de Angola
Banco abandonado

À volta da cidade cresceram bairros de casas com paredes de adobe e telhados de chapa. As casas são vermelhas como o chão de onde parecem brotar. Parecem maiores e mais afastadas umas das outras que as dos bairros em volta da capital do país. Pelo meio ainda há espaço para campos de futebol e balizas improvisadas com três paus. A necessidade de combustível para cozinhar tem feito a floresta recuar, pelo que a cidade parece rodeada por um círculo vermelho de casas de adobe, um círculo verde de capim e um círculo verde escuro de árvores tropicais.

Largo do mercado
Mercado Municipal

Na rua cruzamo-nos com um grupo de rapazes que finge tropeçar à nossa frente. Uma brincadeira apenas, para ver se assustam os brancos. Não intuímos malícia e trocamos sorrisos. Mais à frente, ao fundo de uma longa avenida, chegamos à catedral. É um edifício imponente e bem conservado. Hoje é dia de reunião dos escutas e o pátio lateral está cheio de pequenos uniformes a formar um círculo em torno dos chefes. Debaixo do alpendre está uma freira algo anafada de hábito branco e óculos na ponta do nariz a acenar com ar aprovador.

Catedral de N'Dalatando
Catedral

Ao final do dia, com uma luz laranja a começar a encher as sombras, pequenas colunas de fumo vão subindo dos quintais. É hora de preparar o jantar.

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

35 respostas a “N’Dalatando, a cidade jardim”

Nota: Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados.
  1. Oxalá agora se suceda um desenvolvimento harmonioso como as imagens que nos transmitiu.

  2. Fora de Luanda as coisas parecem acontecer de forma diferente.

  3. Que inveja, sou Angola do Kwanza Norte…mas não conheço a minha Terra.Sinto tanta vontade de ir lá!
    Entregue um Beijo Grande à minha amada Angola

  4. Que saudades destas imagens.Estao muito bonitas. Espero que continuem a recupera-la que bem merece era considerada sim a cidade jardim.

  5. Lindas imagens. Pelo que me têm contado o interior de angola tem prosperado na sua recuperação em diferenciação à capital – LUANDA. Ao menos valha-nos isto para consolar a nossa alma!

  6. Quando vejo imagens desta minha terra até sinto dor na Alma.

    espero um dia voltar lá.

  7. Caros amigos gostaria de ver 4 casaa jumeladas na rua de Moçambique que fazen gaveto com a rua que vai dar ao antigo Lusitano.Obrigado e um abraço angolano.Zecafonso

  8. Caro Zeca Afonso,

    Este artigo foi escrito há quase um ano, por ocasião de uma visita à cidade, não houve oportunidade de conhecer as ruas todas mas, se me mandar uma localização mais precisa, talvez possa ver se tenho alguma fotografia da zona.

  9. Caro Afonso Loureiro,mais uma vez grato pelas imagens e não só da linda cidade de N/Dalatando,onde vivi muitos anos na rua de Moçambique nº/20.Tantas saudades daquela querida terra.

  10. Caro Afonso obrigada pelas fotografias. fiquei muito sensibilizada ao reviver tudo de bom que vivi na minha linda cidade. Se tiver alguma fotografia da rua de Moçambique, a casa à beira da inspecção escolar, em frente à do Sr Mário que trabalhava no Governo civil, que tinha como vizinho o sr Carvalho das finanças, gostaria muito de ver, pois era a minha casa. o meu muito obrigada
    Luisa

  11. Lembro-me de ter passado no cruzamento com a rua de Moçambique, mas já não me recordo se cheguei a tirar alguma fotografia nesse sítio.

  12. Caro amigo Afonso LOureiro.É sempre com satisfação que vejo e leio aquilo que escreve,e mais ainda quando fala da nossa N/Dalatando.Gostaria muito ainda ver a rua onde vivia ,Rua de Mocambique nº20 ,sei que é pedir muito obrigado.

  13. Não sei se tenho fotografias dessa rua. No dia em que visitei a cidade não prestei muita atenção às placas toponímicas porque poucos as usavam para dar indicações. Se me conseguir indicar alguns pontos de referência adicionais, talvez saiba se tenho alguma fotografia dessa rua.

  14. Aqui vi a minha infância, estudei cresci e conheço todas as fotos como se fosse hoje.Faz hoje dia 15 de Março, 37 anos que fui obrigada a abandonar aquela cidade tão linda.
    Que saudades que tenho, estudei no colégio Familiar e colégio Santa Maria Goretti.

  15. Sr Afonso Loureiro estou agradecida pelas fotos que aqui apresenta e que me são tão familiares. Aqui cresci e estudeiEstou em Portugal à 37 anos e tenho muitas saudades da nossa terra.Um pedido quero fazer-lhe se possível fôr. Gostaria de ver uma foto do bairro onde morava que era do caminho de ferro, visto o meu pai ser ferróviário. Um abraço.Quando o meu pai foi transferido para a Canhoca fui para o Colégio Familiar juntamente com os meus irmãos.

  16. Cara Leonor,

    Quando visitei N’Dalatando não cheguei a fotografar os arredores da estação. O velho edifício estava a ser substituído pela estação chinesa construída na reabilitação da linha. Julgo que não tenha fotografias desse bairro.

  17. sou do uige e moro em espanha as imagens territoriais angolanas säo fantasticas adoro o meu pais força angola

  18. Não me canso de observar estas imagens.Reconheço tudo.Até o prédio do sr. Mário Matos(comerciante)que fica a seguir ao mercado municipal.Pelo aspeto ainda está bem conservado.Eu morava na rua Cabo Verde que fica cerca de 200m.da Tendinha, que era uma taberna.Muitas saudades daquela terra que jamais esquecerei enquanto viver………

  19. Fui militar na antiga Salazar,linda cidade que ficou no meu coração.Aminha guerra era pacifica,pertencia ao PAD 1245 anos 1967/69,do tenente Carvalho e dos furrieis Roxo Vaz e Miguel Anjos entre outros.A nossa missão não era pegar em armas mas sim ter as viaturas operacionais.No desporto acompanhava os Lusitanos e os Dinizes,neste estádio criei um grupo de apoio com businas formado por militares que ficou famoso,principalmente numa deslocação á Gabela.Que saudades.

  20. cidade matavilhosa via ser destruida pelo MPLA E FNLA em 1975 ano em que estive em salazar como militar.fomos o ultimo batalhao a sair de salazar vimos a miseria que ficou .tenho saudades desse tempo uma cidade linda maravilhosa sinto orgulho de ai ter estado e de saber que está a ser recuperada.
    gostaria de ver mais fotos do quartel estação do comboio.
    obrigado

  21. No que eu pode ver nas imagens da minha pequena e linda cidade Jardim, sob tudo o meu pequeno e rico município de Bolongongo, orgulhume em ser angolano. E que mundo goste e sente orgulho do meu e nosso País que se chama Angola.

  22. sempre que vejo salazar ou escuto alguem que lá esteve meto
    conversa .ainda não perdi a esperança de ir a angola e visitar as terras por onde passei como militar a cidade de cabinda era bonita mas salazar expiramos sentimentos era de facto uma pequena cidade linda, sinto orgulho por la ter passado como militar de 1974/a75 deixamos a cidade destruida pelos movimentos ,mas alegrome de ver fotografias
    com a cidade a crescer e a ficar bonita.
    gostava de ver mais fotografias quem as tiver agradeço
    obrigado jose bastos

  23. eu gostei de ver ojardim e a igreja. Tambem estudei no colegio familiar onde fui interno. Há, no entanto uma localidade que me ficou no coração BOLONGONGO onde passei a minha meninice Gostaria muito de rever bolongongo nos dias de hoje, sera possivel? Um abraço

  24. ola ha anos que procuro colegas do colegio santa maria goretti em salazar, estive interna entre 1972 e 1975, a valdemira a zeza a gloria estiveram sempre no meu dormitorio desde o 1º ano preparatorio, ja falei ha uns anos com a irma samuel,gostava de encontrar as minhas colegas obrigada carla

  25. Que arrepio me dá ao ver as imagens da terra onde nasci

    Que bela cidade jardim. Quem sabe um dia poderei pisar essa terra maravilhosa
    que saudades

    quem me dera voltar e ficar!!!!!!

  26. Afonso Loureiro, parabéns pelo seu blog.
    Eu sou do Dondo mas estive com alguns amigos no colégio Familiar no sistema interno.
    Vivo em Lisboa assim como outros antigos alunos e gostaria de lançar a ideia de se organizar o encontro dos alunos do colégio Familiar, assim como já organizo o encontro dos antigos alunos da escola primária do Dondo. Pedia o seu apoio para a divulgação do mesmo.
    Cumprimentos,
    Horácio Torres de Azevedo

  27. Esta tarde bateu de novo uma enorme vontade de ver e ler algo sobre a terra que me viu nascer…
    Agradeço do fundo do coração as palavras e imagens do amigo Afonso Loureiro sobre N’ Dalatando, ou Salazar, como se chamava quando lá nasci!
    Bem haja mesmo, amigo!
    Graças a si, pude ver nas suas fotografias o edifício ao lado do mercado municipal, onde passei as primeiras semanas e meses de vida!!!
    Foi Graças ao facebook e a blogues como o seu que tive o privilégio de ver pela primeira vez a casa onde os meus pais viveram nessa altura e que foi a minha primeira casa, já na reta final, em dezembro de 1974…
    Imagino que compreenda o que foi a partida brusca a que os meus pais e milhares de outros portugueses foram obrigados na época…
    Como diz o ditado «Em tempo de guerra, não se limpam armas»… Assim, debaixo de morteiros e furos nas paredes e nos eletrodomésticos, não houve tempo para pensar em saudades e recordações… havia apenas que salvar a pele e sair com a ajuda das colunas militares que refere…
    Que Deus o ajude a continuar a contribuir para um reerguer de recordações e constituição de um passado que contribui para o presente e certamente ambos contribuirão para um futuro!!
    Abraço sincero de uma portuguesa de coração angolano.

  28. Foi emotivo, muitíssimo, ter-me aqui reencontrado… estive em Salazar entre 1968 e 1974. Durante esses anos, fui professora no Santa Maria Goretti… onde comecei a ensinar… nunca mais parei… agora estou numa Universidade na China… Lágrimas de alegria, obrigada…

    Deolinda Pereira de Barros

  29. cuanza norte é a cidade que menos desenvolve anivel do paíz
    Agora não se o nosso presidente não ta investir ou é o nosso governador que não quero envestir.

  30. É fantástico recebermos notícias e imagens da nossa cidade de Dalatando, onde crescemos e vivemos uma parte da nossa vida (1968-1975). Nasci em São Paulo de Assunção de Luanda. Estudei na escola industrial e liceu de Dalatando. Morava no bairro do caminho de ferro( o meu pai era funcionário do CFL). Antes do 25 de Abril era conhecido por o jovem branco mais revolucionário da cidade. Agora, em Portugal, pátria que nos recebeu, saudades imensas do nosso país! Vivemos e trabalhamos(sou professor de História e vou publicando coisas e colecionando cursos) no município de Condeixa-a-Nova/Coimbra.

  31. Nasci em Salazar/Dalatando, desde que estou em Portugal é a primeira vez que vejo fotografias da terra que me viu nascer em 1958, estudei na Escola Primária, junto ao Palácio do Governador e fiz o ciclo no colégio Sta. Maria Goretti e depois, fui viver para Luanda. Não há terra igual no mundo e, Gentes que foram meus colegas e amigos nesta terra. Estou comovido, que Deus abençõe essa terra e estes Povos.

  32. Pra dizer que a cidade de N’Dalatando não é minha cidade de natalidade, mas tive la alguns familiares que infelizmente a guerra os levou. Ela é minha cidade estudantil, por onde me formei durante cinco anos. O tempo que permaneci lá, tive a possibilidade de conhecer bem a ciade,realmente gostei, passava mais o meu tempo lá no Quilombo por onde fazíamos nossas revisões.na altura vivíamos na Rua dos Volontarios,por detrás da casa do ser. Governador, é tudo o meu muito obrigado K.N.Um abraço aos meus colegas,nomeadamente,Mateus Feleciano,Madalena,Ingracia, o ser. Bunga.

  33. Minha cidade, minha terra! Gostei de estar aí em Janeiro de 2015, pude verificar que realmente está requalificada. Agora vivo no Lubango mas em breve voltarei para lá, na minha terra. Um abraço a todos os residentes.

  34. Bom día,

    Maravilhoso conhecer um poquinho mais de N´Dalatando, cedinho eu vou a morar lá um ano… espero disfrutar demais! Abraços

  35. Estudei no Colégio Santa Maria Goreti até 1974, ainda hoje sinto saudades.
    Não nasci lá, mas é lá a minha terra de coração.

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