Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

05 2010

Estação da Maianga

Há muitos, muitos anos, no tempo em que Luanda era ainda uma cidade pequenina e cujos arrabaldes começavam no que hoje é o centro, os comboios paravam na Maianga. A estação da Cidade Alta ligava o centro de Luanda a Malange quase desde o princípio do séc. XX. Aliás, os caminhos-de-ferro angolanos nasceram cerca de três décadas depois da inauguração da primeira linha portuguesa.

Entretanto foi desactivada. A Cidade Alta deixou de ser o centro económico da cidade e a estação da Boavista ganhou importância. Depois da independência veio a guerra civil e os comboios foram fazendo viagens cada vez mais curtas, até que deixaram de circular de vez em Luanda a seguir às primeiras eleições.

Estação da Cidade Alta
A estação da Cidade Alta

A cidade foi crescendo e a estação, bem como o parque de manobras e edifícios anexos foram sendo utilizados para outros fins. Há uns anos tentaram que se tornasse a sede da Associação Chá de Caxinde, mas por uma razão ou por outra, esse projecto foi posto de lado e a estação ficou esquecida, arrumada a um canto. De estação passou a igreja, mercearia e habitação. Não fosse ostentar ainda o letreiro meio escondido com o nome do apeadeiro, poucos diriam que alguma vez teriam aqui chegado comboios.

Na esquina do outro lado da rua há um edifício também bastante degradado, a antiga habitação do chefe de estação, posto bem mais cotado na época, a avaliar pelas condições da casa.

Casa do chefe de estação
Morada do chefe de estação

Actualmente são duas ruínas anónimas, que a cidade esqueceu, mas ainda não desapareceram debaixo de uma torre de estritórios moderna. Seriam sítios interessantes para instalar museus ou centros culturais.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

8 respostas a “Estação da Maianga”

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  1. É raro vir aqui, porque na realidade há demasiadas asneiras, e esta da estação da cidade Alta, tem tanta asneira, que me é impossível deixar passar.
    Este comboio, partia do Bungo, não Boavista, como erradamente chama, ia em direcção à Camara, onde havia um apeadeiro, continuava até à estação da cidade alta, onde parava de novo e ia até ao quartel dos bombeiros, que era um aeródromo, ali para os lados do Hospital Militar. Havia dois comboios de manhã, e dois à tarde…Esssa linha foi desactivada em 1958, quando a expansão urbanistica tomou conta da cidade. Nada teve a ver com independencia…Depois disso durante muitos anos foi nesse local a feira popular de Luanda, antes de ter ido para a Samba, e de ter ido parar para o pé da 7ª Esquadra.
    Houve ainda em Luanda outro comboio, bem mais antigo ao longo da marginal…
    Afonso Loureiro, sabe o que se diz na sua terra??? O sapateiro não deve ir alem da chinela. Não insista em falar do que não sabe…Leia o “Novo Jornal” que semre aprende um pouco mais!

  2. Caro Fernando Pereira,

    Parece-me que leu o artigo na diagonal. Não escrevi que a estação da Cidade Alta tinha sido desactivada aquando da independência nem que ligava directamente à Boavista.

    Se reparar bem, falo do encerramento da estação devido ao crescimento da cidade e, logo a seguir da importância que a Boavista ganhou (e o seu ramal, entenda-se). No mesmo parágrafo falei ainda do que sucedeu à circulação de comboios na linha de Luanda até 1992. Não associei o encerramento da estação à independência ou a nenhuma outra data. Não o fiz porque a desconhecia.

    Como vê, as incorrecções que me apontou não existem. Agradeço-lhe, no entanto, por me ter preenchido lacunas na história, como o ano de encerramento da linha, os usos posteriores dados ao espaço, o número de comboios diários e a relação de estações.

    E, por falar em ditados populares, é aconselhável medir duas vezes e cortar só uma, porque parece que não me aventurei para lá da chinela.

  3. É frequente eu vir a tudo que fala de Cabinda ao Cunene, embora trocasse tudo o que deixei em Angola, por um café, apenas. (atenção que gosto muito de café)

    Gosto de ler Fernando Pereira, mas atenção que Afonso Loureiro parece um velho e honrado colono de barba e capacete de cortiça, e com idade para ter andado de tipoia.

    Não sabia que o comboio chegava até ao antigo campo de aviação.

    Por um triz não apanhei essa linha pois cheguei a Luanda em 1957 a 10 de Junho com 21 tiros da fortaleza de São Miguel, até me julguei com tratamento de Diogo Cão!

    Mas em 1959 ainda vi um bocado de linha debaixo do asfalto numa rua da Maianga que parava para as barrocas do que viria a ser o bairro de Alvalade.

    Gostava de ter vivido anos mais antigos nessa terra.

    Andei de comboio para Malange e em via estreita até ao Dondo em 1959. Que maravilha! até se parava para comprar bananas.

  4. São estas pequenas marcas de coisas passadas, quase que como órgãos vestigiais, que mostram o crescimento da cidade. Uma estação sem linhas explica mais que um livro inteiro dedicado à expansão urbana.

  5. Caros amigos
    Senhores Afonso Loureiro e Fernando Pereira.

    Li atentamente os vossos comentários á Estação da Cidade Alta da Maianga e sem querer entrar na polémica, apraz-me dizer o seguinte:
    Fui para Angola em 1951 e frequentei na 3ª e 4ª classes a Escola 7, situada nas trazeiras da Câmara Municipal de Luanda.
    Efectivamente o comboio que partia da estação do Bungo, tinha a primeira paragem no apeadeiro da Chibera, seguindo-se o apeadeiro da Câmara, depois a Estação da Cidade Alta seguindo em direção aos Musseques. Passava por meio de uma barroca, onde se situava a Maternidade, onde me nasceu um irmão. A Maternidade ficava mais ou menos próximo onde mais tarde construíram o Hospital Militar,no começo da Estrada de Catete. Não tenho bem a certeza, mas parece-me que o comboio regressava á estação de partida, ou seja circundava a cidade
    Na Rampa da Robert Hudson havia uma ponte metálica onde passava o comboio.
    Andei dezenas de vezes á borla nesse comboio e estratagema era o seguinte:
    Saímos da Escola, deixávamos parar o comboio e víamos onde ia o revisor. Se ia na carruagem da frente apanhávamos a carruagem de traz ou vice-versa. Algumas das carruagens não tinham portas e era engraçado ver as Kintandeiras com as suas kindas cheias de mangas, bananas, mabokes, mufetes, mandiocas, cana de açucar,missangas etc.etc…
    O revisor de que ainda me lembro o seu nome Sr. Barros falava fluentemente o Kimbundo com as kintadeiras para lhes cobrar o bilhete (uma nota de um angolar), que elas traziam amarrotadas amarradas á cintura.
    Toda a malta dos Musseques o conheciam.
    Uma particularidade. A passagem do comboio servia para as lavadeiras apanharem as brasas para passarem a ferro pois a locomotiva era a carvão.
    Quanto á Estação da Cidade Alta na Maianga, depois de desativada no seu recinto passou a funcionar a Feira Popular de Luanda, onde várias vezes comi boa sardinha assada.
    A finalizar quero dizer-lhes que viajei no comboio que saindo também da estação do Bungo percorria toda a Marginal até á Ilha. Era linda a paisagem.
    Espero com humildade ter acrescentado mais umas achegas a este assunto interessante que é lembrar o passado.
    Um abraço fraterno do,
    António Gomes

  6. A meu ver, acrecentou a melhor parte da história desta estação, o testemunho de quem presenciou aquilo de que eu apenas vi resquícios.

    O meu bem haja pelo seu comentário.

  7. Meu bom amigo Sr. Afonso Loureiro
    Ainda relacionado com o comboios dos Caminhos de Ferro de Luanda, informo o meu amigo que também viajei em Junho de 1961 para o Dondo, fazendo ali transbordo para a carreira da EVA, com destino a Nova Lisboa para cumprir serviço militar.
    Também fiz em 1953 e 1954 a viagem de comboio Luanda/Malange como aluno do Seminário.
    Em relação ao comboio Luanda/Malange contavam até uma anedota:Ao comprar o bilhete para Malanje havia bilhetes de 1ª, 2ª e 3ª classes, só que havia a particularidade de as carruagens serem todas iguais. A diferença só aparecia no então Morro de Salazar em que era necessário atrelar nova máquina para puxar o comboio vinda do Zenza do Itombe.
    Caso as duas máquinas não chegassem para puxar o comboio, aparecia o Revisor que em voz alta pedia: “Srs passageiros da 3ª classe façam o favor de descerem para empurrarem o comboio”, seguindo-se os da 2ªclasse e por último se necessário os da 1º Classe. Estava assim encontrada a diferença de preços nos bilhetes do comboio.
    Peço desculpa da minha ousadia, pois nem se quer me conhece, mas não posso esquecer os 24 anos da minha juventude dados a uma terra que julguei também que era minha.
    Tenho uma filha e dois irmãos naturais de Luanda. Vivi 18 anos nos Dembos e quando ouço falar na Luanda antiga, vem-me logo à memória a minha infância,apesar dos meus 71 anos de idade.
    Termino com abraço de amizade e com a frase ouvida com frequencia entre os nossos irmãos angolanos “estamos juntos”.
    António Gomes

  8. Caro amigo como tens passado?
    Através desta nova tecnologia vim matar saudades da maianga , qual não foi o meu espanto quando dei por mim a cantar … assegura o Bode Zé Manel, assegura o Bode Zé Manel, que esse Bode derrubou minha mulher………………..
    Por acaso ainda te lembras quem cantava isto? era aquele que já não conseguia ver o feijão frade à frente que lhe davam no seminário?
    Será que sabes quem te escreve isto?
    Um grande abraço do sempre amigo Manuel Leite

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