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30  09 2010

O rapto e o ministro

Apesar de a guerra civil já ter terminado há quase uma década, ainda há altas figuras do poder em Angola habituadas à total impunidade com que as coisas se faziam em tempo de guerra.

Há uns anos, o empresário Mello Xavier, que se diz fazer negócios apenas com o dinheiro dos outros, viu um dos seus gestores, talvez testa-de-ferro, desaparecer com uma elevada quantia. Diz-se, também, que era parte de um negócio de venda de camiões russos ao Estado Angolano com preços muito inflacionados.

Por causa do dinheiro em falta nos cofres do camarada Mello Xavier, foi feita uma queixa-crime contra o tal gestor, português que temendo pela vida e, provavelmente, a par dos contornos de muitos negócios menos claros, fugiu de Angola, primeiro para Portugal e depois para São Tomé.

Em 2009, numa acção inspirada certamente no rapto de Adolph Eichman às mãos da MOSSAD, o Ministério do Interior Angolano enviou polícias a São Tomé e Príncipe para capturar o acusado. Infelizmente, esqueceram-se que aquelas ilhas não são a décima nona província angolana, tal é o hábito de assim as tratarem, e nem sequer se deram ao trabalho de emitir um mandado de captura internacional ou fazer um pedido de extradição. Foram lá e sequestraram-no como se de uma coisa normal se tratasse. Provavelmente, nem sequer se pensou nas consequências.

Tanque russo

Nesta época não se faziam perguntas

O incidente diplomático estava criado, levando a queixas por parte de São Tomé e Príncipe, cujas instituições foram completamente desrespeitadas e Portugal, do qual é cidadão o acusado. Para aumentar a indignação, Mello Xavier é muito mal visto em São Tomé, devido a negócios mal explicados anos antes, e o simples facto de estar ligado a este caso é uma boa justificação para suspeitar de marosca.

Diz quem está a par da situação, que o Ministro do Interior, o General Ngongo, autorizou a operação de sequestro devido às ligações com o Mello Xavier. Insinuam que o protege por ter garantida uma comissão nos vários “negócios”. Infelizmente, coisas destas acontecem em Angola e todos se calam, mas quando se passam em países terceiros, nem sempre corre da mesma maneira.

É claro que uma bronca deste tamanho poderia ser abafada pelos tiros dos canhões, mas estes já se calaram há muito e este incidente teve repercussões sérias. Nem mesmo Israel escapou incólume à acusação de violação da Lei Internacional cinquenta anos antes.

Era necessário fazer rolar cabeças para minimizar os danos causados à imagem de Angola. O Ministro foi exonerado e uma investigação aberta. O raptado foi libertado, mas permanece em Angola, sem documentos.

O estrago está feito e não é com a exoneração de um ministro que se repara tudo. Agora todos se perguntam como chegou aquele cargo alguém com tamanho desrespeito pela Lei.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

7 respostas a “O rapto e o ministro”

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  1. E porque a embaixada de Portugal não emite um salvo-conduto para o sequestrado voltar à terrinha?

  2. Este senhor , o MX ,tem uma longa história que remonta aos tempos da pré independênçia, ainda no tempo da soberania(já fraca) Portuguesa.
    Leiam o Livro de Jornalista Leonor Figueredo(passe a publicidade)que o nome dele está lá, ligado a actos pouco recomendáveis para com cidadãos Portugueses.
    Segundo me informaram a poucos dias está indiciado pra ir a tribunal,em Angola,acusado por ofensas corporais.
    A estrela (amarela) está a começar a empalidecer…Agora que começa a incomodar…

  3. As relações entre Portugal e Angola são sempre muito complicadas. A posição oficial é que “pesada herança do colonialismo” tem de ser paga com juros por muitas gerações. Quanto mais arrogante o Estado Angolano é, mais subserviente Portugal se torna, com medo de ofender. Qualquer acção tomada por Portugal significa retaliações imediatas por parte de Angola e quem sofre são os emigrantes portugueses que lá moram.

    Estes problemas remontam já à independência, altura em que Angola (o MPLA) cortou relações diplomáticas com Portugal, a pretexto de não ter feito tudo para que o poder ficasse nas mãos certas. Foi o Brasil que assegurou os serviços consulares portugueses nesta época.

    Portugal poderia emitir um salvo-conduto, mas este seguramente seria desrespeitado pelas autoridades angolanas e choveriam acusações de se estar a tentar proteger um criminoso (obviamente que o rapto seria esquecido de forma conveniente). Portugal, como tem vindo a ser habitual, encara a situação como facto consumado…

  4. Há outros livros que referem a sua participação em muitos outros casos controversos. E também em São Tomé e Príncipe é mal visto devido a negócios escuros em que, dizem, esteve implicado.

  5. Antes de difamar informe-se sobre a verdade.
    A que negocio escuro se refere?
    Ganhar um Concurso do Banco Mundial e negocio escuro?
    Dar emprego a muitos cidadaos nacionais e pagar mensalmente impostos que garantem o pagamento dos salarios a funcao publica e negocio escuro?
    Leia o Telanon S.Tome.
    O coitado do portugues deve estar a tentar ficar em Angola pois nao lhe convem regressar a Portugal onde tem vigarices para responder

  6. Parece-me que leu o artigo na diagonal…

  7. Eu sou tuga a ando há décadas a ver canalhas e corruptos a roubarem o País. E muitos chico-espertos vão para Angola repetir a dose! Faz muito bem o governo angolano em lhes dar o devido castigo|

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