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31  10 2010

O monóptero

No já longínquo ano de 2004, dirigi-me ao posto de turismo de Mogadouro, situado numa ponta da Avenida de Nossa Senhora do Caminho, e pedi informações acerca dos pontos mais interessantes do Concelho. A menina, solícita, entregou-me algumas brochuras. Reparei na fotografia do Monóptero de São Gonçalo, cuja imagem de monumento desolado no meio do nada conhecia, mas não sabia ser de Mogadouro. Disse que o queria ver e a menina, de novo extremamente solícita, garantiu-me que fazia muito bem, porque era uma coisa linda de se ver. Perguntei como se ia para lá e ela, um bocadinho embaraçada, confessou que não sabia, porque nunca lá tinha ido…

No mesmo dia conheci quem tivesse nascido no Azinhoso, a povoação mais próxima do singular edifício, e lá tivesse comido peixe acabado de pescar no regato que lhe corre ao lado. Indicou-me também onde começava a estrada que lá me levaria. De facto, a caminho encontrei algumas tabuletas indicando a direcção do monóptero, mas a última estava na zona industrial e a cada bifurcação do estradão de terra mal batida a dúvida aumentava. Deixei Mogadouro sem ter visto o famoso monóptero que, dizem fazia parte da propriedade dos Távoras que o Marquês de Pombal mandou arrasar, ou não fosse este canto de Portugal o seu reduto.

Monóptero de São Gonçalo
Monóptero de São Gonçalo

Este ano, munidos de indicações mais precisas, chegámos lá sem dificuldades de maior, seguindo um caminho mais longo e, também ele, não assinalado. O monóptero é, de facto, um monumento à desolação, com as suas colunas trabalhadas longe de quem as possa admirar. Algumas pedras do muro que fechava a base das colunas foram reaproveitadas para construir um pedestal tosco que suporta um São Gonçalo de plástico, tornando o edifício numa mistura de originalidade com beatitude popular.

O seu curioso nome advém do desconhecimento da sua função ou origem, tendo-se optado por chamar-lhe monóptero, ou seja, edifício circular sem paredes, com uma só ordem de colunas a sustentar a cobertura.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “O monóptero”

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  1. O monóptero de S. Gonçalo, apesar de se encontrar degradado, é dos monumentos mais bonitos que alguma vez vi. O facto de estar isolado no meio de um campo de acesso nem sempre fácil só o torna ainda mais bonito e especial. Foi em 2009 que o visitei pela primeira vez, e apesar de viver em Lisboa, todos os anos volto àquele monumento que tanto me fascina. É lindo e único.

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