O monóptero
Afonso Loureiro
No já longínquo ano de 2004, dirigi-me ao posto de turismo de Mogadouro, situado numa ponta da Avenida de Nossa Senhora do Caminho, e pedi informações acerca dos pontos mais interessantes do Concelho. A menina, solícita, entregou-me algumas brochuras. Reparei na fotografia do Monóptero de São Gonçalo, cuja imagem de monumento desolado no meio do nada conhecia, mas não sabia ser de Mogadouro. Disse que o queria ver e a menina, de novo extremamente solícita, garantiu-me que fazia muito bem, porque era uma coisa linda de se ver. Perguntei como se ia para lá e ela, um bocadinho embaraçada, confessou que não sabia, porque nunca lá tinha ido…
No mesmo dia conheci quem tivesse nascido no Azinhoso, a povoação mais próxima do singular edifício, e lá tivesse comido peixe acabado de pescar no regato que lhe corre ao lado. Indicou-me também onde começava a estrada que lá me levaria. De facto, a caminho encontrei algumas tabuletas indicando a direcção do monóptero, mas a última estava na zona industrial e a cada bifurcação do estradão de terra mal batida a dúvida aumentava. Deixei Mogadouro sem ter visto o famoso monóptero que, dizem fazia parte da propriedade dos Távoras que o Marquês de Pombal mandou arrasar, ou não fosse este canto de Portugal o seu reduto.
Monóptero de São Gonçalo
Este ano, munidos de indicações mais precisas, chegámos lá sem dificuldades de maior, seguindo um caminho mais longo e, também ele, não assinalado. O monóptero é, de facto, um monumento à desolação, com as suas colunas trabalhadas longe de quem as possa admirar. Algumas pedras do muro que fechava a base das colunas foram reaproveitadas para construir um pedestal tosco que suporta um São Gonçalo de plástico, tornando o edifício numa mistura de originalidade com beatitude popular.
O seu curioso nome advém do desconhecimento da sua função ou origem, tendo-se optado por chamar-lhe monóptero, ou seja, edifício circular sem paredes, com uma só ordem de colunas a sustentar a cobertura.
O monóptero de S. Gonçalo, apesar de se encontrar degradado, é dos monumentos mais bonitos que alguma vez vi. O facto de estar isolado no meio de um campo de acesso nem sempre fácil só o torna ainda mais bonito e especial. Foi em 2009 que o visitei pela primeira vez, e apesar de viver em Lisboa, todos os anos volto àquele monumento que tanto me fascina. É lindo e único.