De volta do ferro de soldar
Afonso Loureiro
Se há coisa que me deixe aborrecido é descobrir uma avaria num aparelho que, devido à sua simplicidade, não possa avariar. Sinto-me defraudado. Não são raras as vezes que descubro que não foi o aparelho a avariar, mas sim um qualquer componente acessório que, mal montado, nivelou por baixo a durabilidade do todo.
Aconteceu-me recentemente com um carregador de isqueiro para o GPS. Se peças móveis e com componentes electrónicos rudimentares, tinha tudo para durar mais que o próprio receptor. Mas não durou. Tornou-se um pedaço de lixo por sua livre iniciativa.
Entranha de fora
Certo dia, resolveu deixar de acender a pequena luz vermelha que garante haver corrente disponível. Pior ainda, a corrente que a luz vermelha garantiria haver, também ela estava desaparecida. A primeira suspeita foi a própria ficha de isqueiro, o pior contacto conhecido da história da electrónica. Depois de três fichas experimentadas, o problema só poderia ser do próprio carregador.
Desmontado o dito, novamente se comprovou que o problema ocorre sempre por falta de cuidado na montagem. Um fio, que deveria ligar uma das molas ao circuito, estava agora solto. Pelo aspecto, parece que o tinham soldado com o isolamento e tudo. Um alicate, dois toques de ferro de soldar e alguns minutos para abrir e fechar a caixa foram o suficiente para o compor.
Nas minhas longas e demoradas viagens de carro, nas quais não dispenso o GPS (que por acaso também é telemóvel e tantas outras coisas), o mais dificil de garantir que funcione é o carregador de isqueiro.
E não me venham dizer que é porque é de marca branca, feito na China ou comprado no Sr. indiano. Nada disso! Custe 25Euros ou 3Euros o resultado é o mesmo. Raramente se consegue uma carregador que encaixe bem na ficha, tenha uma vida útil razoável e cumpra minimamente a sua tarefa.
Quando consigo um carregador de isqueiro que até tem alguma qualidade, o fio com um comprimento decente, funcione bem e encaixe na ficha, das duas uma: ou a empresa troca-me o telemóvel ou troca-me o carro!
Por isso, na mala do meu carro há carregadores HTC, Motorola, Nokia, vários Samsungs, SonyEricsson. Made in China, Taiwan, Hungria, India, Paquistão, Damaia, Babilónia, Martim Moniz, Colombo, Amoreiras, Cascais Shopping… Mesmo assim, às vezes fico “pendurado”!
Se pudesse proferia aqui um ditado angolano que, não sendo muito conhecido, é demasiado blasfemo para constar numa página do Aerograma.
Com artigos como o da aventura vernacular da Cabala, os pruridos já ficaram para trás.
“Quando há merda não há balde, quando há balde não há merda!”