Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

12 2010

O jornalismo e os rabos presos

Um dos novos 777 da TAAG sofreu uma avaria e largou destroços sobre Almada. Talvez um pássaro tenha sido sugado para um dos motores e partido algumas palhetas do turbofan. Não é situação rara em parte nenhuma do mundo e os próprios aviões são desenhados tendo esses factores em conta. As peças não costumam cair sobre locais habitados, mas desta vez caíram e houve dois feridos ligeiros.

Cumprindo as normas, o piloto fez meia-volta, reduziu o peso do avião despejando combustível e aterrou de emergência no Aeroporto Gago Coutinho. A operação foi registada e a investigação quanto às causas da avaria começou. A TAAG já não está proibida de voar para a Europa porque cumpre os requisitos de segurança. Avarias e incidentes ocorrem e são resolvidos segundo as regras, como neste exemplo se vê.

Os jornais que publicaram a notícia começaram logo a ser inundados com comentários dignos dos que juncam o Angonotícias, clamando que era perseguição aos angolanos, que apenas publicavam a notícia motivados por racismo e outros argumentos bacocos.

TAAG B737-200
TAAG

Curiosamente, os noticiários da noite na SICNotícias, que também é vista em Angola, afinaram a notícia para não chocar estes comentadores irados. As “peças que caíram do avião da TAAG” passaram a ser chamadas de “peças que alegadamente caíram do avião da TAAG”, como se os registos da ANA deixassem margem para dúvidas.

Custa-me acreditar que esta nova redacção da notícia se deva aos interesses que a SIC tem em Angola, mas suspeito que se deva exactamente a isso.

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

6 respostas a “O jornalismo e os rabos presos”

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  1. Certo é que o voo da TAAG de Luanda para Lisboa no dia 4, à noite (sábado), foi adiado para domingo de manhã. Na véspera os passageiros estiveram dentro do avião no aeroporto de Luanda cerca de 3 horas, às escuras e com muito calor, porque os motores não “pegaram”… Em Almada, seria o mesmo avião?

    Cumprimentos

  2. Não sei se seria o mesmo, mas é possível confirmar essas informações, uma vez que todos os aviões têm matrícula. E, no caso da TAAG, apenas os B777 estão autorizados a voar para a Europa.

  3. Permite-me discordar, Afonso. Acompanhei o caso desde as primeiras notícias e não vi nenhum indício de tratamento menos próprio por parte dos jornalistas/jornais/televisões pelo facto de ser uma empresa angolana. Aliás, é uma prática bastante comum dos jornalistas portugueses alongarem-se em “alegados” e “não confirmado”.

    Quanto aos comentários dos utilizadores, é o fenómeno da internet: as pessoas mostram sempre o pior lado.

    E uma correcção: a TAAG está autorizada a voar para a UE com os 777 e os 737.

  4. Não estou a dizer que o tratamento tenha sido menos próprio, mas houve diferenças entre a notícia que também passou em Angola e as de consumo interno. Se tivessem usado o “alegadamente” em todos os casos não me chocava nada.

    Quanto aos aviões, tinha ideia de que apenas os cinco 777 faziam parte da lista de autorizações. Os 747 não cumprem as normas e os 737 não estão nas rotas europeias.

  5. Os aviões da TAAG apenas voam para Lisboa e só dois aviões o estão autorizados a fazer. Para o resto da Europa ainda estão proibidos de voar. Acho que se deve chamar a atenção e muito bem para a TAAG, tal como em milhares de outras coisas, Angola podia ter uma excelente manutenção nos aviões e não necessitava da vergonha de estar na lista negra. Dinheiro não lhes falta..

  6. Para a Europa estão autorizados, pelo menos, os três B777-200ER (D2-TED, D2-TEE e D2-TEF).

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