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04 2011

O vulcão Adamastor (primeira parte)

O presente artigo, por ser muito extenso, foi dividido em várias partes. Hoje publica-se a primeira, que trata não do título, mas de uma pequena introdução ao tema. A segunda pode ser lida aqui e a última aqui.

Usando um modelo simplista, o planeta Terra divide-se em cinco camadas concêntricas. A mais profunda, o núcleo interno, crê-se ser constituída quase exclusivamente por ferro e níquel. A envolvê-lo está o núcleo externo, com a mesma composição, mas líquido. A interacção entre ambos produz o campo magnético terrestre que faz funcionar as bússolas e, acima de tudo, desvia grande parte da radiação solar perigosa para a vida. Imediatamente a seguir vem a camada mais espessa, o manto. A composição e fluidez do manto são habitualmente comparadas à lava dos vulcões, embora se saiba que tal comparação seja demasiado grosseira para ser levada sério. O aumento da pressão com a crescente profundidade eleva de igual modo o ponto de fusão das rochas, o que tornará o manto um sólido com alguma plasticidade.

Finalmente, a fina camada onde vivemos, atmosfera incluída, é apenas a fronteira entre as rochas quentes do manto superior e o vazio sideral. A crosta terrestre não é, de forma alguma, representativa da Terra, mas como é a única parte que os conhecemos directamente, é fácil tomar a parte pelo todo.

Acreditamos nos nossos sentidos e julgamos que a Terra é rígida, sólida e imutável, até porque as forças telúricas que a moldam desde a sua formação se manifestam numa escala temporal quase sempre demasiado grande para que as possamos compreender facilmente. Os processos mais importantes, como a expansão dos fundos oceânicos, movimento dos continentes e as alterações cíclicas do campo magnético terrestre medem-se em velocidades médias de poucos centímetros por ano.

Há, no entanto, ocasiões em que a Terra mostra um pouco da sua natureza, em que a crosta deixa transparecer o que a comanda. Quer sejam os vulcões ou os terramotos, de vez em quando somos despertados do sonho. A Terra não é tão sólida nem imutável como acreditamos. Só no último lustre, houve dois grandes abalos sísmicos acompanhados de maremotos na Ásia e uma erupção vulcânica na Islândia que paralisou aviões em meio mundo. Grandes terramotos deixam marcas na memória das gentes e no traçado das cidades por muitas gerações. Nos solos e rochas ficam por mais tempo ainda.

A distribuição destes abalos e erupções vulcânicas não é aleatória. Grande parte deles ocorre onde duas placas crustais se encontram ou em locais específicos, chamados pontos quentes, onde as correntes de convecção do manto são capazes de furar a crosta terrestre. O arquipélago do Havai é um exemplo deste último fenómeno.

Chaminé vulcânica fóssil
Penedo do Lexim (Mafra), chaminé vulcânica fóssil

As placas crustais, cuja parte emersa forma os continentes que conhecemos, movem-se lentamente umas contra as outras, como se tratassem de folhas flutuando num lago. Quando duas placas se afastam, como está a acontecer no Vale do Rift, na África Oriental, abre-se uma grande fenda, que será preenchida com material vindo do manto. O mesmo sucede na Crista Dorsal Atlântica, que marca o meio do Oceano Atlântico, onde novas rochas se formam à medida que a Europa e África se afastam das Américas.

Quando se aproximam, a história é outra. O encontro de tão grandes massas não ocorre sem aparato. As grandes cadeias montanhosas são a face mais evidente destes choques, em que as margens das placas se enrugam e uma delas mergulha sob a outra, sendo reciclada no manto.

Nas zonas de subducção, locais onde as placas se afundam, a energia cinética e potencial das placas em movimento é dissipada de três formas principais, sendo o calor a mais evidente, até porque as zonas de subducção estão sempre associadas a vulcanismo. A placa do Pacífico, por exemplo, está limitada a norte pelo chamado Anel de Fogo, uma longa cadeia de vulcões activos localizados sobre a zona de subducção.

A criação de novas montanhas, com a elevação de grandes quantidades de rocha é outra forma de dissipação de energia, embora se possa dizer que se trata um pouco da história da galinha e do ovo.

A terceira forma, e aquela que mais nos atemoriza por ser imprevisível, são os tremores de terra. Sendo a crosta terrestre sólida, os movimentos relativos das placas não ocorrem a velocidade constante. O atrito entre as várias estruturas impede-as de se moverem até ao instante em que se dá uma ruptura e toda a energia armazenada se liberta de uma só vez.

Continua aqui e aqui.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “O vulcão Adamastor (primeira parte)”

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  1. vaticano.

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