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26  11 2011

Xicoronhos, Macópios e Cabeças de Pungo

Para muitos, Lubango e Namibe são nomes novos. Os que conheceram Sá da Bandeira e Moçamedes sabem que os novos nomes apenas ocupam o lugar das cidades que recordam. Às vezes temos a sorte do nosso lado e partilham uma história cheia daqueles pormenores que ajudam a perceber melhor o espírito de quem viveu em África. Em muitos aspectos, estas recordações espontâneas são melhores do que as trazidas pelas fotografias da época, que evocam os lugares e pouco mais.

Em 1971, a Miss Portugal era oriunda de Moçamedes, reforçando a ideia da nação multicontinental apregoada pelo regime. Maria Celmira, por todos conhecida como Riquita, fazia parte dos muitos colonos da que se dizia ser a terra com as mulheres mais bonitas de Angola. Riquita foi apenas a confirmação do que diziam os que faziam de propósito os 180 km que separavam Sá da Bandeira de Moçamedes só para lavar as vistas.

Sá da Bandeira 433 km
Terra de Macópios

Os habitantes europeus destas duas povoações, próximas em distância, mas infinitamente longínquas em termos de clima e paisagem, depressa inventaram alcunhas mais ou menos pejorativas para os vizinhos. Os de Moçamedes, talvez com inveja do clima mais ameno dos planaltos da Huíla chamavam Macópios aos de Sá da Bandeira, nome dos coelhos que abundavam naquelas serras altas. Por vezes chamavam-lhes mesmo xicoronhos, o nome que os zombos tinham dado aos colonos de Sá da Bandeira, Humpata e demais terras da Huíla onde havia fazendeiros. Xicoronho é a adaptação à língua local da palavra colonos, com o prefixo xi, que significa terra.

Não querendo ficar atrás, os de Sá da Bandeira tratavam os de Moçamedes por Cabeças de Pungo ou Cabeças de Peixe, fazendo menção ao que achavam ser a única actividade económica daquela terra rodeada de deserto – o porto de pesca.

Ao que parece, ninguém encarava estas alcunhas com maldade. Xicoronho ou tripeiro, cabeça de pungo ou alfacinha, macópio ou sadino, cada um tem é orgulho na sua terra.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

2 respostas a “Xicoronhos, Macópios e Cabeças de Pungo”

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  1. O Afonso é um filósofo e ainda por cima sabe escrever.
    A analogia é fantástica: gostamos da nossa terra, mesmo que lá não haja nada bonito.

  2. Obrigada pelos esclarecimentos, informações que só consegui contigo
    colaboraste para o enriquecimento do dicionário virtual
    Não deixei de mencionar este site,ao enviar o termo macópio

    Abraço

    Mila

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