Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

01 2013

Burros

Para muitos, o Nordeste brasileiro é sinónimo de estâncias turísticas à beira-mar, uma espécie de Algarve tropical, com hotéis de muitos andares junto à praia e preços inflacionados por causa dos turistas. Felizmente, o Nordeste não se resume a turistas e a quem deles depende para ganhar a vida. Há muito mais do que isso.

Longe das praias e dos mesmo dos circuitos turísticos mais alternativos, há um outro mundo onde a terra ainda é o centro da vida das famílias e os turistas são uma história inventada por quem vai à cidade grande ou pelas crianças que vão à escola. É nestas povoações que as crianças fogem dos raros carros que por lá passam.

Na maioria destes locais, os terrenos são arenosos e pobres. Crescem palmeiras e mandioca, que em forma de farinha é a base da alimentação.

Jumento
O fiel companheiro de trabalho, o jegue

Os programas de electrificação rural e a Bolsa Família trouxeram energia e dinheiro a muitas famílias deste interior esquecido, aliviando a pobreza. Um dos primeiros investimentos de quase todos foi comprar uma motorizada para substituir os jumentos nas deslocações diárias.

Com o aumento do número de motos, deu-se o correspondente aumento de animais abandonados, que se deslocam em manadas pelo mato e costumam ser atropelados nas estradas com cada vez maior frequência.

A figura típica do nordestino era sempre acompanhada de um burro. Agora talvez seja por uma mota, mas isso não quer dizer que tenham sido todos esquecidos. Nos meios mais pequenos onde as terras de cultivo ficam perto de casa ou não há a necessidade de ir todos os dias à cidade, o burro ainda se mostra útil, especialmente porque continua a ser capaz de levar cargas mais pesadas a lugares mais difíceis do que qualquer mota.

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

3 respostas a “Burros”

Nota: Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados.
  1. Na aldeia dos meus avós maternos, Torre de Bera, o burro fazia parte dos animais domésticos. Utilizados para trabalhos agricolas e para todo o tipo de transportes.

    Gradualmente foram desaparecendo e o último dos burricos, era pertença de um velhote muito engraçado, o Sr. Geremias.

    Quando o Sr. Geremias passava por mim na sua carroça, punha “travões a fundo” no burrico, eu lá subia, e depois de muito bem sentada dáva-mos umas boas voltas a toda a velocidade pelos arredores da aldeia.

    Foram as melhores boleias da minha vida. Como eu gostava do barulho dos cascos a bater na calçada… toc toc toc.

    Agradecia, e o Sr. Geremias, levando a mão ao chapéu, dizia:
    -Sempre às ordens menina!

    Tenho uma mágoa, nunca soube o mone do burro!!!

  2. Caro Afonso bem observado essas suas palavras. Aina hoje isso é muito usado um grande choque de realidade para outras culturas.

  3. A mandioca, ou “macaxeira” como se diz no Nordeste, é muito consumida no Brasil inteiro. Quando os primeiros açorianos chegaram ao Sul, substituíam muitos usos da farinha de trigo pela farinha de mandioca.

Deixe uma resposta

Nota: Os comentários apenas serão publicados após aprovação. Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato.

« - »