de olhar o céu

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Será que perdemos algo?

 

    Quando era pequeno, costumava olhar o céu. E ficava maravilhado com tanta estrelinha e pontinho luminoso ali suspenso.

    Depois vieram uns candeeiros de luz amarela. Como por magia todo o céu se apagou. Quer faça chuva, vento, trovoada ou esteja bom tempo o céu tem sempre a saudável cor laranja... por vezes um pouco mais cinzento, outras menos, mas é LARANJA!

    Onde chegámos! Depois de milénios a contemplar o céu nocturno, tentando explicar o que se passava na terra com o que se via no céu estamos reduzidos a ver um capacete opaco. Antigamente (e não há muito tempo) acabava o dia, chegava a noite e aparecia um mundo fantástico, com toda a sua carga mística, com todas as lendas e histórias associadas às diversas constelações. Já nem falo no lado prático de olhar para o céu se saber em que direcção se segue.

    Hoje em dia já não há diferença entre noite e dia. Quando o Sol se põe, o dia continua, mas com outras cores.

    Já nos desabituámos tanto de contemplar o céu que nem de dia reparamos nele. Estamos tão habituados a olhar apenas em frente que a maior parte do que nos rodeia passa despercebida.

    E é um choque tão grande ir ao interior Português, numa noite de Lua Nova e parar à beira da estrada para ver o céu. Quem diria que tudo aquilo está sempre presente mas invisível.

    Da próxima vez que tiverem uma destas oportunidades, percam meia-hora, contemplem o céu. É quase certo que serão capazes de imaginar o que levava as pessoas a criar histórias para explicar a forma das constelações, a inventar mitos acerca do mundo dos espíritos (quer acreditem ou não).

    Por vezes penso que o caminho que levamos não é o mais correcto. Como é possível que tantos séculos de humanidade se percam assim de repente?

    O povoamento disperso tipicamente Português também não ajuda para a eliminação de focos de poluição luminosa. É cada vez mais raro encontrar um local sossegado (em termos de luz) para se poder observar o céu nocturno. E até mesmo o diurno se torna cada vez mais difícil observar com tanta poeira e poluentes em suspensão...

    E é assim que cada vez se torna mais difícil convencer as pessoas a largar por uns instantes a televisão e ver o que as rodeia. Sai-se de casa, vai-se trabalhar, volta-se para casa e são capazes de se passar meses desde a última vez que se olhou acima do nível dos olhos...

 

    Não sei se já deu para reparar, mas hoje estou um pouco melancólico...