Motas

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Já sou motard!!!!!

    Nunca me tinha imaginado a conduzir uma mota e sempre tinha achado um pouco temerário andar sentado em cima de um motor, a ver o chão a passar.

    É verdade que para além da desconfiança natural de um veículo que não se aguenta de pé sozinho também sentia aquela pontinha de inveja dos que as possuíam.
    É também verdade que não achava nada agradável a ideia de andar a apanhar com o vento nas trombas, nem a chuva, nem o sol, nem os besouros, mosquitos, pedras e jacarés na cara e nas mãos.
    Confirmo ainda, que me seduzia a ideia de poder vestir um fato, colocar o capacete e partir na mota (talvez porque acarreta conotações da cavalaria medieval - quem nunca pensou em ser cavaleiro, daqueles com armadura, elmo, flâmulas, capas, cavalo, espada, lança e tudo?). Pronto, está bem, há certos seres (com nomes de terras onde se produz cimento) que preferiam ser a princesa na torre...

    Pois então imaginem vestir uma armadura completa, colocar um elmo, baixar a viseira, montar o cavalo e partir à aventura (geralmente acabava com uma queda feia).

    Agora comparem com vestir um equipamento completo (com todas as protecções de ombros, cotovelos, costas, joelhos, tornozelos), colocar um capacete integral e baixar a viseira, montar a mota, ligá-la e partir à aventura (que pode ser apenas até à esquina, mas já é uma aventura - e se tudo correr bem não acaba com quedas feias)! Só falta a lança!

    Pois então, depois do exemplo do MigMac fiquei com a pulga atrás da orelha. E se...
    Entretanto, armado em imbecil conseguiu espetar-se... nada de grave para ele, mas era uma vez uma Transalp. É claro que o alarmista do Bico conseguiu fazer a Sílvia ficar com mais cabelos brancos «Estou a telefonar para dizer que o Miguel teve um acidente de mota e está no Hospital São Francisco Xavier!» e desligou...

    Fiquei um pouco de pé atrás. Tirar a carta e depois espetar-me? Não achava nada agradável...

    Mesmo assim persistia um bichinho a apoquentar o meu Tico (o Teco está em coma). Pronto, tiro a carta e nunca tenho mota, assim não fico com um peso na consciência.

    Continuava indeciso até que fomos descer o Zêzere pela segunda vez (esse rio revolto). O Miguel foi de mota (agora uma Fazer 600), nós fomos de Saxo com o Radical. Ao contrário do que esperava, o Miguel mostrou-se um condutor de mota mais consciente do que de enlatado. De tal maneira que até lhe dei os parabéns (não é que ele leve a minha opinião em grande conta, mas achei que o devia fazer).

    Decidi-me! Fui à escola de condução, inscrevi-me e menos de 20 dias depois vou ter a carta. Vou é ficar com uma daquelas cartas novas todas paneleiróides...

    É claro que já comecei a ver que material comprar, que isto de se andar de mota de casaquito e calcinha de fazenda com um capacete aberto e ténis no presunto não inspira lá muita confiança.

    Também já estive a ver que mota comprar - uma Honda Deauville. Mas como o mundo dá muitas voltas...
    Entretanto tenho feito o gosto ao dedo na Churrasaki lá da escola. O maior ferro do mundo, que não tem pisca direito à frente, em vez de conta rotações há um buraco, literalmente. Os manípulos da embraiagem e travão estão partidos pelo meio e o guiador aponta para a direita...

    Gosto muito de conduzir e faço cerca de 20 000 km por ano, mas tenho de confessar que gosto ainda mais de andar de mota! E tal como já me tinha dito, é uma sensação quase, quase indescritível. Não adianta tentar explicar, ou se anda e se sente ou se fica com uma ideia muito distante do que será. É quase como vermos fotografias das cataratas do Lago Vitória em vez de lá ir ver como são. Não é que eu já lá tenha ido, mas enfim...

    Decerto já se perguntaram o porquê de "Ruminante do asfalto". A resposta é simples. Um ruminante é um herbívoro, anda normalmente devagar (embora possa galopar de vez em quando). Quem sabe como conduzo geralmente reclama que ando devagar... a parte do asfalto justifica-se porque esse é o ambiente natural das motos...
    Mas devo confessar que esta é uma expressão típica do Filipe. Acho que era assim que ele descrevia o seu pinguim (um Super 5 com matrícula PG).

    Tantas voltas deu o mundo que no dia em que fiz o exame de condução fui à loja onde a escola compra e repara as motas, por indicação do instrutor. Lá falei com o Miguel (o dono da loja) e expliquei-lhe o que queria. Depois de um telefonema desencantou uma Deauville preta de 1999, totalmente impecável, sem riscos, poucos quilómetros (9500 km) e a um preço um pouco abaixo da média! Tinha pertencido a um velhote e, pelo que vi, nem sequer usou os porta-luvas. É uma daquelas oportunidades que não se pode perder. Eu bem estava pensar em só comprar a mota no princípio do ano, mas esta fez-me mudar de ideias.

    No dia seguinte voltei lá, para discutir formas de pagamento. Mas acabei foi por dar uma voltinha numa Deauville com 105000 km! Mas que luxo de mota. Tirando o peso abrutalhado para tentar arrumar à mão, é o maior conforto e facilidade de condução!

    E eu que já me tinha começado a habituar à Kawasaki da escola!

    Já vou ter de começar a pensar em seguros e selos e outras coisas...

 

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    Agora que já tenho uma Deauville há mais de uma semana (e já um tombo) só posso dizer:

    Mas porque raio não tirei eu a carta mais cedo????

    É das melhores coisas que se pode fazer, nem que seja porque não fico parado no meio do trânsito. Nem que seja porque os outros donos de Deauvilles me cumprimentam e felicitam pela escolha. Nem que seja porque os motards se cumprimentam uns aos outros na estrada. Nem que seja porque nos sentimos vivos sempre que nos inclinamos para curvar.

    Quando me passar o sorriso de orelha a orelha volto a escrever mais qualquer coisa sobre o que é andar de mota!