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Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

26  01 2009

Escola de mosquitos

O Huambo esteve isolado do mundo muito tempo. Esta situação teve reflexos na educação das gentes e, espantem-se, dos bichos. Descobri-o num quarto de hotel…

Bem lançado para o meu quinto sono, fui despertado por um zumbido familiar. Esvoaçava erraticamente pelo quarto um vector, armado em parvo.

Acendi a luz e dei-lhe caça. Acabei por lhe executar a sentença com a almofada. Ficou uma mancha castanha na fronha. Menos mal.

Apaguei a luz e fiz os possíveis por retomar o que tinha sido tão rudemente interrompido.

Alguns minutos depois, o zumbido regressou. Novamente acendi o candeeiros, que me ofuscou. Depois de muito pestanejar, vi o cadáver do mosquito de há pouco no sítio onde o tinha deixado. Afinal era um par de vectores que me andava a rondar, cobiçando-me o sangue.

Mais uns minutos de olhos arregalados e ouvidos atentos, enquanto procurava o bicharoco. Acabou por ter o mesmo destino que o parceiro. Desta feita a arma do crime ganhou uma mancha castanho-escuro, sinal de que aquele mosquito já conhecia o gostinho do sangue humano.

Felizmente para mim, matei-a antes que lhe servisse de refeição. Sabe-se lá se a vítima anterior não tinha paludismo. Os mosquitos mordem cada coisa…

Resolvi tomar medidas. Fui à mala buscar o repelente electrónico de mosquitame. Virei-o para a cama e deitei-me.

Parece que os mosquitos andam a ouvir música demasiado alta. O aparelho dizia-lhes claramente, em ultra-sons, que não valia a pena ir para ali, que o sangue do humano adormecido era amargo, que fazia diarreia, que era azedo. Fizeram orelhas moucas e não desistiram de me rondar a cara e os braços.

Percebi que a noite seria longa quando descobri um pequeno espaço aberto na parede para passar os tubos do ar condicionado. Servia de entrada ao raio dos mosquitos.

Como os bichos não fazem caso da maquineta de ultra-sons, voltei à mala e desencantei repelente líquido.

Borrifadelas no pescoço, nos braços, nos ombros e nas costas. Fiquei a cheirar a eucaliptal e cânfora.

«Venham lá agora!»

E vieram mesmo. Chegaram a ter o descaramento de me pousar no pescoço, ignorando completamente o fedor a repelente.

Acendi as luzes e persegui mais uma meia-dúzia de analfabetos voadores. Bem lhe mostrei o rótulo do frasco. Dizia lá repelente de mosquitos, indicado para insectos tropicais. Nada, não conseguiam sequer soletrar o nome do produto. Ou então, a angolanidade dos bichos sobrepôs-se a tudo o resto. Se não se cumpre o código de estrada, porque se haveria de cumprir o rótulo de um repelente?

Foi uma noite longa, dormindo com um olho aberto, como os cães. Pela madrugada, com olheiras pelos joelhos, contemplei a pilha de cadáveres alados que acumulei na mesinha-de-cabeceira e as manchas castanhas e vermelhas na fronha da almofada.

Huambo_3
Carnificina

Só dois me provaram o sangue, mas ambos foram justiçados.

O Governo de Angola tem de tomar medidas urgentes. Esta carnificina era evitável. Bestava que se ensinasse os bichos a ler. Ou pelo menos a cumprir as indicações dos repelentes.

Escolaridade mínima obrigatória para os mosquitos, já!

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

6 respostas a “Escola de mosquitos”

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  1. E uma rede mosquiteira para a cama, não?

  2. Em Luanda tenho rede mosquiteira, mas não a levo comigo para todo o lado…

  3. so nao entendo o que o huambo tem a ver com isso … estava todo lambuzado a espera de um raport da minha terra … a ver se ainda um dia vem ???”

    caté…

  4. Tás com boa pontaria! Não têm hipótese contigo.

  5. Devias ter convidado todos os mosquitos da zona para uma aula sobre como funcionam os repelentes 😛
    Assim evitavas toda a carnificina..

    Grande abraço

  6. Hahahahahaha!muito forte!!!gostei!!
    Um abraço!!

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