Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

10  11 2009

A época do Natal

Quando eu era pequeno, o Natal era no Natal. Não havia confusões nenhumas. À medida que fui crescendo, o Natal começou a ser cada vez mais cedo, com as decorações e menções natalícias a surgirem, primeiro no final, depois em meados e início de Novembro até que chegámos ao final de Setembro com todos os comerciantes a pensar no Natal. Curiosamente, este antecipar da festa começou a notar-se com mais vigor pouco depois de abrirem os primeiros hipermercados em Portugal.

Agora, mal acabam as promoções do regresso às aulas começa logo a promoção do Natal, seguida pelas do Carnaval e da Páscoa. A do Verão começa no início da Primavera e estende-se até ao regresso às aulas, que é em Setembro, mas começa no primeiro de Agosto.

As promoções para as datas mais importantes são interrompidas por mais duas, inspiradas em tradições importadas porque permitem vender mais bugigangas. Há vinte anos não se comemorava o dia dos namorados, nem sequer pensava no dia das bruxas. Havia o Dia de Todos os Santos e o de São Martinho. Num vendia-se flores e no outro castanhas e água-pé.

É fácil adivinhar que a época comercial do Natal não me diz nada. Custa-me ver pessoas afogueadas a comprar, comprar prendas em catadupa só porque é Natal. Começam a correr lojas ainda em Outubro, à procura da prenda ideal para todos os amigos, familiares, conhecidos e afins. Acabam por comprar um monte de coisas inúteis que são recebidas, no mínimo, com um sorriso amarelo. Não é a prenda que conta, gente!

Se já me sinto deslocado ao entrar nas lojas portuguesas nesta época, sou um peixe fora d’água nos supermercados angolanos em promoção de Natal. Talvez seja dos fatos vermelhos e brancos, talvez seja das renas ou da decoração com algodão a fingir neve, mas as coisas ainda me parecem mais artificiais.

A febre das prendas também cá chegou. Há quem passe com carros cheios de brinquedos, garrafas de bebidas e decorações de Natal.

Daqui a umas semanas começamos a ver uns desgraçados vestidos de vermelho e branco a destilar à porta do Belas, para dar um ar mais natalício ao Verão austral.

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Deixe uma resposta

Nota: Os comentários apenas serão publicados após aprovação. Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato.

« - »