Olhos estrangeiros
Afonso Loureiro
Cada um acha que o mundo em que cresceu é o mais apropriado, a sua civilização a mais justa e a mais bela alguma vez existente. A identidade nacional é como a mãe de cada povo, que poderá não ser perfeita mas não se admite que outros digam mal dela.
Filhos de outras mães poderão apontar defeitos e virtudes à nossa, ocasião em que lhe reconheceremos todas as virtudes, mesmo as que desconhecíamos, mas refutaremos até os defeitos mais evidentes. Faz parte da natureza humana, suponho.
O mesmo se passará com a maneira como os estrangeiros encaram outros povos. O seu padrão de comparação é o mundo em que cresceram e só após uma convivência prolongada poderão começar a ver a mãe alheia como sua.
O que os turistas acham típico e digno de fotografias poderá ser apenas a maneira como sempre foram as coisas para os locais, sem nada de extraordinário que mereça tanto alarido. A neve, por exemplo, não será um fenómeno particularmente marcante para um finlandês, mas para um algarvio a coisa muda de figura.
Diferente, para um estrangeiro
Quando cheguei a Angola tudo era novidade, com gentes de hábitos e tradições diferentes, um clima diferente, mas também muito pontos em comum, fruto de uma História partilhada. A princípio tentei usar estes pontos comuns para poder calibrar as diferenças que encontrava e descobrir o que separava os angolanos dos portugueses. Fui-me apercebendo de que as diferenças não eram assim tão grandes e que, à medida que convivia com elas, me pareciam cada vez mais insignificantes.
A imagem mental do povo que trazemos à chegada vai sendo refinada com o que aprendemos todos os dias. Primeiro procuramos as diferenças e tentamos explicá-las. Assim que as compreendemos passam a fazer parte da nova ideia que temos das gentes que nos acolhem e deixamos de as considerar diferenças. Aos poucos, os olhos do estrangeiro habituam-se ao que é a normalidade da terra. A mãe alheia adopta-nos, por assim dizer.
Talvez seja por isso que os estrangeiros se sintam capazes de escrever um livro sobre o novo país nos primeiros dias, mas que tudo se resuma a uma página ou algumas frases uns meses depois. A novidade dá lugar à normalidade.
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