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19  10 2011

Marcas do tempo que passa

Quando visitei N’Dalatando encontrei muitas marcas do que tinha sido a Angola colonial. Eram os mesmos edifícios mas com mais de três décadas de abandono e falta de manutenção, como aliás acontece no resto do país.

Nos primeiros meses de Angola sentia uma certa angústia injustificada quando via estas marcas do passado surgirem nas esquinas. Custava-me perceber como tinham chegado a este ponto de degradação.

No fundo, esquecia-me de que há coisas que se tornam de tal forma familiares, tão parte da paisagem, que deixamos de reparar nelas. Cada um se vai habituando aos edifícios no estado em que estavam na véspera e esquece-se de como estavam no mês anterior. A degradação avança lenta e inexoravelmente.

Piscina de Salazar
Piscina de Salazar, com água e crianças

Percebo agora que o que mais me chocava não era a excessiva degradação, mas o facto de ainda estarem de pé, com muita da sua identidade presente, mesmo que com sinais da idade. Os edifícios que escaparam às batalhas travadas rua-a-rua mantém-se de pé como se tivessem passado trinta anos fechados numa arrecadação.

Um bom exemplo disso é a piscina de N’Dalatando, cujas principais diferenças para a piscina de Salazar, que ocupa o mesmo espaço mas uma outra época, se resumem à falta de água na piscina, ao relvado seco e a algum lixo acumulado nos cantos. E claro, à palmeira que era quase um rebento há quarenta anos e agora é uma grande árvore.

Piscina de N'Dalatando
Piscina de N’Dalatando, sem água mas com crianças

A alma da piscina continua lá, mesmo que as bombas já não funcionem ou que haja rachas nos pilares que suportam a elegante pala de betão. As crianças continuam por lá a brincar. A falta de água apenas transformou o rebordo da piscina em pista de carrinhos de esferas, e a armação dos baloiços transformou-se numa baliza de primeira categoria.

Bem vistas as coisas, envelheceu graciosamente.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

2 respostas a “Marcas do tempo que passa”

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  1. Quando vejo estas imagens do antes e do depois, e o estado a que chegaram, a única coisa que penso é: Não poderiam restaurar este espaço, seja um parque uma escola ou uma casa… do que é que estão à espera?
    Dá vontade de partir e ajudar a reconstruir… África passa-me esse sentimento!
    Se calhar é a vontade de sair deste país que não promete nada para a próxima década… ou melhor promete… mas não é nada de bom!

    Um abraço!

  2. O quartel era mesmo por trás da piscina.Passei lá (piscina) bons e alegres momentos,1967/69 PAD 1245

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