Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

23  04 2009

Adeus Travessa da Mutamba

A Mutamba é o centro de Luanda. Lá encontramos os Ministérios das Finanças e das Obras Públicas, bem como as traseiras do Governo Provincial. Pertinho dali, por vezes à sombra da torre de aço escovado da Sonangol, uma pequena travessa escondida preservava a Luanda do final do séc. XIX.

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Pedaço de Memória

A travessa da Mutamba não tem mais de cinquenta metros. De um lado há dois edifícios em estado razoável, para os padrões luandenses. Do outro havia quatro, em mau estado. Em dia incerto, uma escavadora derrubou paredes e esventrou telhados. A memória da cidade desaparecia mais um pouco, dando lugar às anunciadas fundações de uma nova torre.

O entulho ficará lá amontoado largos meses, enchendo-se de latas de Cuca amassadas, bicicletas desmanteladas e ferrugentas, bocados de ventiladores e sacos de lixo. No meio deste amontoado de lixo encontramos alguns pedaços de memória perdidos. Os painéis de azulejos com a toponímia da cidade vieram com as paredes. Se olharmos com atenção, um ou outro pedaço espreita pela última vez os céus de Luanda.

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Pedaço de Memória

A Travessa da Mutamba era pequenina e, provavelmente, não era estimada por ninguém. Agora desapareceu e temo que seja esquecida como tantos outros recantos de Luanda que deram lugar ao progresso de betão armado.


Fim anunciado

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

4 respostas a “Adeus Travessa da Mutamba”

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  1. Mais um pedaço de história que cai….
    Para completar: Largo Almirante Baptista de Andrade
    Um povo que não preserva os tesouros do passado, não interpreta a sua história e não aprofunda o conhecimento do presente, é um povo sem memória. Que pena.
    Resta a consolação que mesmo imcompleto, este pedaço de história está em boas mãos.
    Um abraço

  2. Quando ouço a palavra ‘betão’ dá-me uma volta ao estomâgo!

    É verdade, como está a marginal de Luanda? Sempre a vão destruir? =S

  3. Parece que sim… os coqueiros já morreram e a ilha artificial vai crescendo como se não houvesse coisas mais importantes onde gastar o dinheiro.

  4. Como poderei arranjar fotos da Travessa Ferroviários Portuguêses, travessa onde vivi nos anos 60.
    Se por acaso alguêm tiver fotos desta travessa, ficava muito agradecido se me enviassem para o meu email.
    Nasci em Luanda em 1969, vim para Portugal com 5 anos e nunca mais lá voltei.
    Acima de tudo sou Angolano, porque nasci naquela terra lindissima,um dia tenho de lá voltar para completar o meu ciclo.
    Luanda sempre.

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