Um outro recanto africano
Afonso Loureiro
Depois de uma longa temporada em terras angolanas separado da Cristina, ficou combinado que ela iria conhecer África. O plano inicial previa que se juntasse a mim nas últimas duas semanas de contrato, para que conhecesse Luanda e um pedacinho de Angola. Os aborrecimentos que se foram acumulando nos primeiros meses do ano fizeram-nos mudar de ideias. Não era aquela África que eu lhe queria mostrar. Optámos por São Tomé e Príncipe, país a que alguns angolanos chamam de décima nona província, mas que os santomenses mostram que essa pretensão é logro.
É fácil gostar dos santomenses, membros sociedade mais pequena sem as cicatrizes de uma guerra demasiado longa. Toda a gente fala extraordinariamente baixo, de tal forma que até uma discussão mais acesa passa despercebida. É um país seguro e com condutores que respeitam as cedências de prioridade.
Roça de São João de Angolares
Calhou chegarmos em semana de campanha eleitoral, que nos garantiram ser uma confusão, mas uma balbúrdia santomense é menos complicada de digerir que festejos de vitórias futebolísticas cá por Portugal.
A moeda oficial é a dobra. O número de zeros impresso em cada nota mostra que sofreu muitas desvalorizações ao longo dos anos. Oficiosamente, o euro circula em São Tomé, a câmbio fixo, mantendo a indexação ao escudo. Toda a gente sabe de cor a taxa de câmbio, que, este ano, se situa nas 24’000 dobras por euro.
Um tema incontornável das conversas que mantivemos com os santomenses é a imagem que o estrangeiro tem do país, ficando por vezes admirados quando sabem que o quadro é positivo, uma vez que a ideia que têm de São Tomé é a de um país atrasado e desorganizado, em contraste com os vizinhos angolanos, que têm a certeza ser Angola o melhor país do mundo.
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