Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

08 2008

Barra do Kwanza

Depois de termos conhecido o Miradouro da Lua era obrigatório passar a fronteira que dá o nome à moeda do país. Atravessar o Kwanza é um marco. Sai-se da província de Luanda e entra-se na Província do Bengo. Sai-se de Luanda e entra-se no resto de Angola. Na Angola mais selvagem, sem casas amontoadas e sem trânsito. Gostaria de dizer uma Angola sem lixo, mas ele lá vai aparecendo aqui e ali.


A caminho do Sul

A ponte, construída no princípio da década de 1970, foi recuperada recentemente e está com um ar digno de cruzar o grande Kwanza. Mas tem uma portagem! Na nossa anterior visita à Barra do Kwanza, não tínhamos dinheiro para atravessar o rio. Foi preciso adiar alguns dias.


Depois de recuperada

Desta vez já contávamos com a portagem, mas não sabíamos quanto custaria. O curioso é que o preço também pode não ser tão fixo quanto o esperado. A caminho da margem esquerda parámos na portagem e entregámos 1000 Kz. O portageiro disse que não tinha troco. Perguntámos quanto era, não fosse acontecer termos dinheiro trocado. Antes de responder, devolveu-nos a nota e disse “Siga, não tenho troco!” enquanto apontava para a ponte, mais à frente…

Como ficámos com um ar espantado repetiu “Pode seguir, não tenho troco”.

A situação foi um pouco surreal, mas mais valia aproveitar a borla. Já do outro lado do rio, desatámos à gargalhada.


Cactos e embondeiros

A paisagem luxuriante da foz do Kwanza depressa deu lugar à savana mais seca, sarapintada de embondeiros, semelhante à que rodeia Luanda. Aquele aspecto de deserto a esconder terra fértil já nos era familiar. Uma recta a perder de vista fez-nos desistir de ir mais para Sul, por ser já tarde.


Estrada infinita

A foz do rio tem uma restinga na margem esquerda que desvia as águas para Norte. A esse braço de terra que tenta fechar o rio, deu-se o nome de Bico do Kwanza. Curiosamente, houve alguém que se lembrou de lá colocar uma geocache… não se podia desperdiçar esta oportunidade.


Um embondeiro de guarda


No Bico do Kwanza


O ar salgado faz notar os seus efeitos

Fomos até ao cimo da arriba e demos de caras com um vértice geodésico. A cache já tinha desaparecido, mas a paisagem valia bem essa pequena desilusão. Mas falando em geocaches desaparecidas, em Angola só há cinco, mas quatro delas acho que já não existem…

Apesar da arriba não parecer muito alta, lá de cima avista-se o mundo inteiro. Os palmares plantados na várzea escondem o rio de águas escuras. Na outra margem vemos o local onde parámos da outra vez. E lá em baixo está um mar agitado


A várzea da foz do Kwanza


E o mar a tentar ver-nos mais de perto

As ondas a saltar para a areia deixaram-nos com vontade de as ir ver mais de perto, pelo que descemos à praia. Não resistimos e fomos todos a correr molhar os pés. Já distantes de Luanda, as águas são mais limpas e não arriscamos ficar doentes depois de um banho de mar. Mas Luanda produz tanto lixo, que até aqui ele chega e suja a areia. As marés trazem muitas garrafas de plástico, muitas latas e, acima de tudo, sandálias. É curioso ver tantas sandálias sem pés na praia e tantos pés sem sandálias na cidade. Não estará algo trocado?

A verdade é que até na cidade há mais sandálias que pés, embora muitos andem descalços. Há até uma rua inteiramente pavimentada de sandálias velhas.


A primeira pegada


Mas não estava só

Naquela tira de areia podemos escolher entre águas salgadas do Atlântico e águas doces do Kwanza. De um lado há tubarões, do outro jacarés… ou pelo menos é o que nos dizem.


Convidativa


O lado dos tubarões

Mas a água é quente, quente. Parece que estamos num banho de imersão. Temos de cá voltar com fato-de-banho e farnel, que aqui vale a pena vir à praia.


Fico-me já por aqui

Depois de lavar os pés com água salgada e de voltar a calçar os sapatos, pusemo-nos a caminho. Desta vez já havia troco na portagem e pagámos a tarifa normal 210 Kz. Não se pode ter sorte todos os dias.

No regresso a casa parámos no Miradouro da Lua só para ver o pôr-do-Sol. Diziam que era um espectáculo magnífico. Não fomos enganados!


As cores ficam mais intensas


Cabras a trepar aos montes lunares


Até amanhã

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

10 respostas a “Barra do Kwanza”

Nota: Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados.
  1. Finalmente praia e pôr-do-sol!
    Curiosa a história da portagem, nem dá para acreditar que houve uma borla, quando tudo tem um preço e se possivel um preço de branco.

  2. Alguém mais reparou que ele não fez a depilação?

  3. Deixo um abraço de parabéns por este belo e didactico blog. Conhenço de visita recente este sedutor percurso. É de sonho!

  4. Na busca de informação acerca da Barra do Kwanza encontrei o seu blog… Gostei as imagens são bonitas e reais; no entanto não percebi só uma coisa que gostaria de ver esclarecida:

    Quando o autor do Blog diz: “Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato”…

    e deixa ficar o comentário da sr. Cristina que diz:
    “…
    Cristina Ribeiro, disse:
    em 9 de Agosto de 2008 às 02:04

    Finalmente praia e pôr-do-sol!
    Curiosa a história da portagem, nem dá para acreditar que houve uma borla, quando tudo tem um preço e se possivel um preço de branco.”

    O que isso diz de si (autor) e do seu Blog???

    Há e sinta-se avontade para não publicar nem responder a minha questão, basta que para isso a mesma fique na sua mente… No entanto dar-lhe-ei o beneficio da duvída e aguardo noticias suas.

    E se houver direito a resposta, diga-me por favor onde exactamente fica a rua em Luanda inteiramente pavimentada de sandalias…??!!!

    Desde já, agradeço pela atenção.

    M.G.

  5. Caro Garcia,

    Nem todos os visitantes sabem escrever sem insultar ou até mesmo ameaçar de morte o autor. O seu comentário é educado e, só por isso, mesmo que com ele não concordasse não teria argumentos para o censurar.
    Houve visitantes que, esses sim, se esconderam atrás do anonimato para fazer inchar o ego, ameaçar e escrever insultos gratuitos.
    O comentário da Sra. Cristina não é insultuoso, é talvez sarcástico.

    A política de não aceitar todos os comentários é lícita, não diz nem bem nem mal do autor ou do próprio blogue. Compreenda que mensagens publicitárias disfarçadas de comentários (o vulgar spam) não pode ser aceite, tal como mensagens que se limitam a dizer “Volta para a tua terra. Cala a boca. Matam-te.” Dessas, infelizmente, tive de apagar algumas.

    Para perceber o que desencadeou a nota de aviso aos comentários mal-educados leia, por favor, os artigos Desabafo, Intolerâncias, estereótipos e desabafos e o artigo visado por um dos comentadores mal-intencionados – Dinheiro deitado à rua.

    Finalmente, respondendo à sua pergunta, se bem me lembro, tal rua fica para os lados do Sambizanga, muito próximo da fábrica da Cuca.

    E o seu comentário merece não só ser publicado como devidamente respondido.

    Bem haja pela visita!

  6. fomos obrigados a sair de angola em 75. tinha eu 10 anos;hoje com 45 ainda tenho lembranças mto vividas da barra do kwanza.da pesca de barco com o meu pai, de ele me dizer “agarra-te com unhas e dentes” quando as ondas batiam no barco e ele sacava peixes de 50 e 60 kg.a baia de Luanda, a ilha, o mussulo, mentalmente ainda consigo sentir o cheiro daquela terra.como gostava de lá voltar!assim a vida me permitisse…..obg por reavivar tão boas recordações amigo Afonso

  7. ola, saudo pelas lindas fotos desta bela localidade, onde eu vivi, gostaria de ver algumas fotos de um restaurante que ai avia, pos os meus pais tiveram esplurando, nao tenho bem a sertesa mas julgo que por 1978, um bem aja, e que deus o proteja

  8. Existe um restaurante na Barra do Kwanza, mas nunca lá comi.

  9. sim. ainda existe? a saudade e muita, ainda se encontra ai em angola?

  10. Já deixei Angola há mais de um ano, mas as saudades também são muitas.

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