Aerograma

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01 2009

Intolerâncias, estereótipos e desabafos

Aviso desde já que este artigo foge um pouco ao habitual. Se não estiver com pachorra para me aturar, compreendo perfeitamente. Amanhã a programação volta ao normal.

Desde que comecei a escrever no Aerograma que tenho procurado evitar generalizações. Todas são injustas, mesmo as mais bem intencionadas.

É certo que em Angola nem tudo são maravilhas, mas tenho-me esforçado por conseguir ver sempre o lado bom das coisas. Evito classificar os Angolanos nas categorias habituais, porque sei que se há uns que não fogem ao estereótipo, muitos outros há que são mil vezes melhores que eu. A grande pena que tenho é que apenas os maus exemplos sobressaiam.

Angola é um país corrupto? É, sem dúvida. Desde o polícia de trânsito ao funcionário público, passando pelos altos cargos, há corruptos em todo o lado. Serão todos? Não, obviamente que não. Mas quem de esquemas vive, singra na carreira mais depressa que o honesto. Portugal é um país corrupto? Sim, também. Tanto como Angola? Talvez, provavelmente não. Ou então esconde-se melhor. Os compadrios funcionam de igual maneira, mas quer-me parecer que a corrupção pequena, do polícia e do funcionário da repartição não é tão generalizada.

Há quem vá acompanhando o Aerograma. Anónimos, na sua grande maioria. Alguns são angolanos. Não falo apenas dos que deixaram a Angola colonial, mas também dos que cá vivem e sempre conheceram o país independente. Nem todos aprovarão tudo o que escrevo, mas compreendem que apenas expresso a minha opinião. Da mesma forma, permito-lhes dizer de sua justiça nos comentários que me deixam. Nunca os censurei, nem mesmo os que de mim discordavam.

Por vezes queixo-me dos comentários racistas que oiço na rua e da intolerância que alguns angolanos têm em relação aos brancos. Parece que o branco só cá vem para explorar o negro, para roubar essa grande nação que é Angola. Os que não pensam desta maneira não se pronunciam e a ideia com que se fica do angolano é a de alguém muito intolerante, extremamente racista e com o rei na barriga. O sonho deste angolano estereotipado é aproveitar as riquezas minerais do país para enriquecer. E, de preferência, que venham chineses para cavar as minas e bombear o petróleo. Saem barato e assim não dá tanto trabalho. Cá para mim, o futuro deste angolano é ficar sentado à beira de uma mina exausta, tão pobre como hoje, porque não trabalhou e esperou que alguém o fizesse por ele. Mas se lhe disser isto, serei acusado de neo-colonialista, de explorador de negros, de esclavagista, de branco-de-merda…

Mas agora já nem preciso sair à rua para ter de gramar comentários racistas ou intolerantes. Um anónimo, porque até teve o trabalho de usar um pseudónimo tolo, perdeu tempo a escrever um comentário que só posso classificar de imbecil. Pelo discurso arrogante e inflamado só posso dizer que se enquadra perfeitamente no estereótipo do angolano que diz mal do seu país até ao momento em que alguém fala dele.

Curiosamente, há várias semanas que não escrevia um artigo mais crítico acerca da terra onde agora vivo, e o artigo comentado é algo de verdadeiramente inócuo. Não percebo a motivação.

A todos os angolanos que não se revêem no estereótipo, as minhas mais sinceras desculpas por este desabafo público. Pelo meu contacto com as pessoas desta terra (que é fabulosa, digam lá o que disserem), sei que os angolanos não são assim. Trabalho com doze angolanos e cruzo-me com largas dezenas todos os dias. É tudo gente honesta e trabalhadora.

Aos que o confirmam, vão-se lixar (com F maiúsculo)!

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

14 respostas a “Intolerâncias, estereótipos e desabafos”

Nota: Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados.
  1. Não se deve dar importância ao que não tem… e o comentário que foi deixado não passa disso mesmo.
    É um comentáro tolo e despropositado, o artigo fala de um acontecimento histórico de algo que se passou e que muita gente desconhece (eu desconhecia… aprendi mais sobre a história de um país) não percebo o aproveitamento para criticar e ameaçar o autor do artigo.

  2. Tanto artigo mais oportuno para este tipo de comentários e fazem logo num artigo com uma descrição histórica e sem qualquer nota de opinião do autor…vai-se a ver e o “anónimo” caiu de paraquedas naquele post sem ler mais nenhum, que isso dá muito trabalho.

  3. Concordo plenamente com que vc escreveu, sinto a mesma intolerância, aliada a uma arrogância sem fim. Sim, o ódio ao colonizador é justificável, mas daí a odiar sem qualquer motivo ou justa razão, TODOS os brancos? Burrice! Pois torna a interação entre as diversas nacionalidades aqui existentes impossível (pelo menos com eles). Fiz amigos de uma vida inteira aqui: americanos, espanhóis, peruanos, portugueses e etc. Mas… e angolanos??? Não… não querem, nem deixam-nos tentar. E se saíssemos todos nós ao mesmo tempo, todos os “brancos de merda”, o que seria desse pobre país? Estradas nunca mais acabadas, nenhum alimento industralizado para comer (além de Blue e Leite Lactiangol)… por favor queridos Angolanos, reflitam suas posturas, estamos todos juntos por um país melhor, aproveitem a chance de crescerem nessa onda!

  4. O angolano-estereótipo apenas odeia o seu colonizador e reclama que Angola seria um país muito diferente se tivesse sido colonizada por outra nação que não Portugal. E sim, o grande problema da Angola actual é mesmo a falta de meios técnicos nacionais para tudo. Até que esta geração que se forma agora esteja a trabalhar, os expatriados serão necessários. Depois, logo se verá.

  5. Curioso, curioso, é que invoca a lei que estabelece as competências da polícia de estrangeiros em Portugal. Que também não tem nada a ver com as críticas a Angola ou com o tema em questão.
    Há gente com demasiado tempo nas mãos.

  6. Olá Afonso

    Não sei porque, mas já estava á espera que mais tarde ou mais cedo, fosse aparecer um “a bombar” a disparatar na rede.
    Continua a escrever e não te deixes intimidar.
    Um grande abraço

  7. pois é Afonso, nada surpreendid,nada mesmo.. um dia tinha q ser!
    essa é a parte q como Angolana tenho a mais simples das vergonhas:(
    eu, Angolana de Luanda e neta de negros e de branos, tenho orgulho na história do meu páis, desde os primórdios das descobertas do reino do Congo, até aos dias da independência, mas sei que Angola e os Angolanos precisam de resgatar a sua história colonial: URGENTE!(Afinal o q é um país sem historia?)
    Educar as gerações sobre a nossa HISTORIA PRECISA-SE!
    pois creio q só assim, vamos todos poder perceber o presente, compreender e desejar um futuro bem melhor.

  8. Eu sei exatamente o que vc sente… só num lugar diferente 🙂

  9. Perante um tão “apropriado” comentário, só me apetece dizer: “palavras loucas, orelhas moucas”.

  10. Caro Afonso Loureiro
    Não o conheço, mas invariávelmente vou lendo os seus comentários, e se alguns acho assertivos e interessantes, outros provávelmente tem menos interesse…Isso acontece no que escrevo semanalmente no “Novo Jornal”, como já escrevi ao longo de trinta e muitos anos (a sua idade talvez!) noutros jornais em Angola e Portugal(Jornal de Angola, JDM, Correio da Semana, Expresso, Publico só para dar alguns. Angolano, branco, militante do MPLA desde 1974, ex-dirigente de um organismo da administração central angolana, mas com a certeza que o racismo é uma questão oportunista, e sempre lidei com isso sem lhe dar muita importancia. Percebo que os angolanos falem internamente mal do País, aliás sempre foi assim, mas convivem muito mal com alguem de fora diz as coisas pouco boas que temos; Sei como se sente, e partilho a sua decepção perante um comentário extemporaneo, mas também sei que o angolano, e comigo acontece buá, apesar de muitas vezes ser a evidente verdade,não gostar que um estrangeiro ou alguem fora fale mal do País.
    O Afonso não tem culpa, eu também não, mas você talvez vá ver melhores gerações de angolanos, as que sonhámos mesmo antes de Abril de 1974, mas que ainda não conseguimos ver…Até eu sou angolano, num ou noutro pormenor menos bom, como por exemplo não gostar do que disse um brasuca meio idiota em cima…Desculpe-me polemizar, mas que é estupido o que disse, é mesmo, ou esquece-se ou não conhece a história do Brasil quando se “independeu” de Portugal…Tudo o que se tem passado em Angola nestes anos a seguir ao 11 de Novembro de 1975, só consegue ser um doce comparado com o que aconteceu no Brasil nos primeiros cincoenta anos, isto para ser benevolente.
    Em Angola, Portugal e em todo o lado há gente boa e má…
    Um abraço solidário, e continue a escrever, mesmo que aqui ou ali me irrite!
    Fernando Pereira

  11. Nunca vi em tudo o que escreveu qualquer palavra que pudesse ser vista como desprimorando o povo angolano, bem antes pelo contrário. O que constato é que há quem não saiba ler…ou que tenha interesse em distorcer o que lê…até para desviar as atenções. Sim, é bem mais simples, e populista dizer “cobras e lagartos” sobre os “brancos” estrangeiros, do que olhar para os casos dos angolanos “pretos” que exploram os próprios compatriotas pelas mais diversas formas. E não é preciso ir muito longe para ver essa exploração: basta constatar a desigualdade de rendimentos chocante que se vive em Angola. Luanda é pródiga nisso. A propósito, ouvi em Luanda num teatro a que assisti recentemente e que caricaturava certas vivências sociais, a expressão “Nova Escravatura”.
    Malta como tu, que foste educado num país livre e, onde apesar de uma ou outra falha se respeitam os direitos humanos, tens obrigação de, à tua volta, teres a esse nível uma postura acima de qualquer suspeita. Um abraçro

    Todos sabemos os erros cometidos pelos processos de colonização. Mas que culpa temos nós dos erros dos nossos “avós”? Por outro lado, vejo agora a presença de tantos portugueses, nomeadamente os jovens com elevada formação pessoal, académica e profissional, como uma geração capaz de DAR muito ao povo angolano. Para além da construção das obras que ai deixam, quero acreditar que deixem em Angola exemplos de correcção, respeito e dignidadena no contacto com todos os angolanos de bem.
    Os angolanos de bem, os que querem viver com dignidade, sem opressão, com direito ao respeito pela liberdade de expressão, liberdade de imprensa e respeito por todos os direitos inerentes à pessoa humana tem todo direito de EXIGIR o cumprimento dos seus direitos quer junto dos brancos ou não brancos estrangeiros, e também, e com maioria de razão dos pretos ou não pretos nacionais.

  12. Bom dia,

    Agradecia a amabilidade de me confirmarem se o Fernando Pereira, que escreveu um comentário acima, esteve ligado à Secretaria dos Desportos nos anos 80 em Angola, eu estava envolvido no Desporto Universitário e gostava de voltar ao contacto.

    Obrigado

    Mário Pires

  13. Mário Pires
    Sou de facto esse mesmo Fernando Pereira.
    O Afonso Loureiro deu-lhe o link de um dos meus blogs.
    Um abraço
    Fernando Pereira

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