Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

29  05 2010

Pedra de emergência

Actualmente, o transporte rodoviário de mercadorias assenta em frotas de camiões potentes e fiáveis, que levam tudo a todo o lado. Mas nem sempre foi assim e, há muitos anos, era frequente ver-se um camião a esforçar-se para tentar vencer uma subida, com dois assistentes atrás carregando cunhas para lhe colocar atrás das rodas. Nessa época, os motores a gasóleo tinham o mau hábito de parar subitamente ou começar a rodar para trás se fossem demasiado esforçados e, caso isso acontecesse, ou os travões falhassem, as cunhas evitavam que o camião acelerasse encosta abaixo.

Um resquício desses tempos é a pedra de segurança angolana. Quase acreditamos que parte da inspecção obrigatória que os carros importados sofrem à chegada incide nas dimensões e pesos das pedras regulamentares. Qualquer avaria, por mais pequena que seja, merece uma ou mais pedras a bloquear as rodas, independentemente do declive do local.

Pedras de emergência
Pedras de emergência

Mudar um pneu, por exemplo, é motivo para colocar seis pedras à frente e atrás de cada roda e mais uma ao lado do macaco para prevenir algum deslize. A pedra que segura ou substitui o triângulo de pré-sinalização é indispensável e é a primeira a ser colocada.

Parte da formação dos condutores deve incluir métodos de prospecção geológica para se conseguir localizar as pedras mais apropriadas a cada emergências nas várias zonas do país. Julgo que deva ser difícil encontrar pedras de qualidade nas chanas ou nos desertos, mas para esses casos, pode-se sempre levar umas de casa.

Travão de emergência
O verdadeiro travão de mão

Os mais habilidosos, como um camionista com quem me cruzei em Sumbe, desdenham das pedras, por serem pesadas e mal-jeitosas e preferem uma solução menos artesanal. Um pedaço de madeira esculpido faz as vezes de cunha e, como se fazia antigamente, o assistente vai sentado na caixa de carga pronto a saltar e travar a roda a cada paragem. Se a peça for bem desenhada, pode mesmo servir para danificar as mãos e cabeças dos amigos do alheio que cobiçarem a carga.

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Deixe uma resposta

Nota: Os comentários apenas serão publicados após aprovação. Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato.

« - »