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23  03 2010

Monumento à desunião nacional

Embora o discurso oficial garanta que a reconciliação nacional vai de vento em popa, os actos públicos revelam contradições. No Cuito Cuanavale está prestes a ser inaugurado um verdadeiro monumento à desunião nacional, homenageando os vencedores da batalha de 23 de Março de 1988, entre as forças do MPLA e as da UNITA.

As estátuas do monumento, segundo o Jornal de Angola «a maior dádiva do governo ao povo daquela cidade», não representam os soldados angolanos, representam apenas os do MPLA. Um bravo soldado das FAPLA ladeado pelo não menos valoroso soldado cubano comemoram uma vitória contra a UNITA e os seus aliados Sul-Africanos que, no discurso oficial, são sempre referidos como o exército do regime racista do apartheid.

Tal como o monumento de Kifangondo, que comemora a vitória do MPLA sobre a FNLA, este comemora a vitória sobre a UNITA. Um e outro tentam confundir a vitória do partido com a vitória de Angola, reescrevendo a História ao sabor da ideologia oficial.

Veneno
Herói do MPLA

Numa altura em que as feridas da guerra deviam estar saradas e todos os angolanos a sentir-se cada vez mais parte de uma nação, o governo relembra-os de que quem não está com o MPLA não é angolano.

A Batalha do Cuito Cuanavale foi o ponto de viragem da política dos dois grandes blocos que durante anos travavam a Guerra Fria com sangue alheio na África Austral, tentando ampliar as suas esferas de influência. Graças ao seu desfecho incerto, em que todos os lados reclamam vitória política ou militar, foram encetadas negociações que determinaram a retirada de forças cubanas e sul-africanas de Angola e a independência da Namíbia, embora sob a esfera de influência da África do Sul. A guerra angolana, até então nas mãos de outros, passou a ser apenas nacional, não que sirva de grande consolação ter uma guerra civil independente.

Um monumento a esta batalha justifica-se pela importância que teve nas Histórias mundial e angolana, mas devia ser um monumento aos angolanos todos, não apenas a uma parte.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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