Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

11 2008

Zungando

Quando se chega a Luanda, uma das primeiras coisas em que se repara é na quantidade incrível de vendedoras que andam com a loja à cabeça.

As zungueiras, hoje em dia, são um elemento fundamental da economia popular, no entanto, são um fenómeno recente.

Até meados dos anos 90 não havia vendedoras ambulantes a zungar pela cidade. Havia pequenas bancas aqui e ali, lojas modestas e pouco mais. Entretanto, para se juntar à guerra civil angolana, o Congo entrou também num período violento. Milhares de refugiados congoleses procuraram Luanda como porto seguro. Grande parte deles cá ficou. Acabaram por formar uma comunidade fechada, com costumes um pouco diferentes dos Luandenses. O local onde foram instalados tem agora o seu nome, que é gritado pelos cobradores dos candongueiros que circulam para aqueles lados:  Congolenses! Congolenses!

Como não tinham meios de subsistência alguns para além do apoio das organizações internacionais, voltaram-se para o que sabiam fazer. As mulheres pegaram nos alguidares de plástico e puseram-se a percorrer as ruas, regateando numa língua que não dominavam. Deram-se bem e, pouco depois, as angolanas passaram a seguir-lhes o exemplo. É certo que as margens de lucro são mínimas, mas é melhor que não fazer nada.

A moda das zungueiras vei para ficar!

 

Adenda (28/12/2011): O leitor Pedro Paulo acrescenta que o bairro já tinha o nome de Congolenses no tempo colonial. Suponho que se deva também à instalação de refugiados do antigo Congo Belga, mas aguardo confirmação. Em qualquer caso, em 1977, as Nações Unidas registam um movimento de 220’000 refugiados do Zaire para Angola.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

6 respostas a “Zungando”

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  1. este é um dos melhores blogs q já li,sobre a minha terra Angola:)
    Parabens pela escrita, e pela sensação (boa) de saudades…

  2. Impressionante com a moda das zungueiras já chegou à metrópole.
    Não andam de alguidar nas ruas de um lado para o outro, mas costumo vê-las na estação do Cacém á espera de quem regressa dos seus trabalhos.
    Ultimamente tenho visto zungueiras com uma espécie de grelhador a assar maçarocas de milho na hora ao lado dos assadores de castanhas.

  3. Qué frô?

  4. “Zungar” é preciso! Uns “zungam” para ganhar a vida, outros passam a vida a “zungar”.
    Afinal, de uma maneira ou de outra, todos “zungamos”.

  5. Caro Sr. Loureiro, quem é que lhe disse que a origem do nome do Mercado dos Congolenses (mais precisamente Congoleses) é essa??
    Muitos anos antes da Independência de Angola já ele tinha esse apelido.
    Em relação a Angola, sobre muitas das coisas que escreve, convinha informar-se primeiro…

  6. Caro Sr. Pedro Paulo,

    Na altura perguntei a um dos meus colegas de trabalho, angolano, e a resposta que me deu foi que se chamava assim devido aos refugiados do Congo que chegaram em massa nos últimas do regime de Mobutu. Uma coisa é certa, o bairro tem o nome que tem devido à comunidade de congolenses refugiados que lá vive, conforme atestado por outras fontes, como por exemplo, uma .

    Não discuto que anteriormente também assim se chamasse. Não vivi a Angola colonial mas sei que houve também refugiados do Congo em Luanda.

    Quanto aos erros, infelizmente, era o melhor que sabia na altura. Tentei informar-me o melhor possível, mas nem sempre as fontes eram fidedignas. Mas como dizia Francisco Manuel de Melo, «Quanto aos erros, vós os vedes, vós os castigai».

    No entanto, agradeço todas as correcções. E se mais tiver a apontar, faça o favor de avisar. Quero que o Aerograma seja tão exacto quanto possível.

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