Pérola do Musseque
Afonso Loureiro
Luanda, a cidade dos contrastes, tem uma relação muito estranha com o seu património. Não sei se é a Luanda cidade ou a Luanda gente que o causa, mas desconfio que ambas tenham influência.
Em Luanda, todos os edifícios que se atravessam no caminho do progresso têm o destino traçado com uma máquina de rastos. Não interessa se são importantes ou não para a História. Se ocupam terreno valioso, vêm abaixo.
Falta pouco
No meio de tanto edifício derrubado, há dias em que perdemos a esperança de que a cidade seja capaz de conservar a sua Memória ou a sua identidade. Só que, às vezes, somos surpreendidos com fabulosos pedaços de Memória nos sítios mais inusitados, que resistem inexplicavelmente.
Não é por haver quem as defenda, porque esse é o primeiro passo para que alguém repare no local e comece a pensar no que poderia ali construir. Mais tarde ou mais cedo será escolhido para albergar as fundações de uma nova torre reluzente. As coisas resistem devido a um completo desinteresse. Mesmo que sejam monumentos importantes, são indiferentes. Não há interesse em preservar ou destruir e vão ficando, como os letreiros dos negócios do tempo do colono.
No musseque do Prenda, pelo meio das casas com telhados de chapa e paredes tortas, encontra-se uma destas surpresas. Consegue-se ver do viaduto na estrada da Samba, quase à sombra do Mausoléu inacabado. Ficou mais visível desde que demoliram uma casa. Passei a chamar-lhe A Pérola do Musseque.
A Pérola do Musseque
Um chafariz de meados do séc. XIX é sempre algo que chama a nossa atenção, mas quando o encontramos no meio de um bairro como o Prenda e pintado de novo, é caso para acreditar em milagres.
Maianga reedificada em 1849
A parte melhor desta história é que aprendi o significado da palavra Maianga e voltei a ter esperança no futuro do Passado da cidade.
Agora só tenho de arranjar coragem para ir lá fotografar o chafariz de perto, em vez de ficar na jaula com rodas a usar a tele-objectiva.
Obrigado por revelar essas pérolas!
Um chafariz do século XIX que foi renovado no meio do Prenda??! Tou perplexa! 🙂
Afinal ainda há esperança para a não destruição massiva das reliquias…
Infelizmente a confusão entre desenvolvimento e vandalismo cultural não é exclusivo angolano. Certamente as rupturas culturais abruptas não ajudam. As feridas de guerra muito menos. E as transformações sociais…e a sobrevivência… e tanto mais… É uma dor que acompanha o amor que ficou de vivências inesqueciveis. Porventura afloradas nessa espécie de arqueologia social. Que belas revelações!
Um abraço
Fica na Samba?
Quero ver também!