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26  09 2008

Primeiras chuvas

Cheguei a Luanda na época do cacimbo, quando o céu tem sempre a mesma cor baça e os dias são iguais uns aos outros. Durante meses a temperatura mantém-se constante e o Sol desaparece muito antes de cruzar o horizonte, envolto numa bruma espessa.

No início de Setembro, uns dias antes das eleições, choveu. Ao fim de exactamente três meses, o cacimbo transformou-se em nuvem e desceu sobre Luanda em gotas grossas mas cautelosas.

Meia-hora depois, a chuva já não passava de uma recordação. Apenas alguns recantos mais escuros a denunciavam. O pó continuou no ar, as fachadas mantiveram-se cor de terra e o céu encoberto pelo cacimbo persistente.

Dois dias depois voltou a chover outra meia-hora. Os angolanos fizeram a sua vida habitual. Não se viram guarda-chuvas. Não se viram correrias. As zungueiras não taparam a mercadoria ou procuraram abrigo debaixo de alguma varanda. As gotas de água quente não chegavam a ser desagradáveis. Eram apenas mais uma parte de Angola.

Mais dois dias volvidos e a meia-hora de chuva repetiu-se. Comecei a pensar se a meteorologia em Angola não sofreria de uma qualquer monotonia congénita. A cada dois dias caía uma chuva quente das 8h às 8h30m. Afinal não. Ainda não chegou a época das chuvas. Estes três ameaços apenas serviram para recordar que daqui a uns tempos passa a ser mais regular.

Ao menos em Luanda ninguém reclama que não ando com o guarda-chuva. Pelo que tenho visto, o pinguço não faz parte do equipamento habitual do angolano. Eles é que me percebem. Sabe tão bem andar à chuva!

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

3 respostas a “Primeiras chuvas”

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  1. Quando o pequenos pingos se transformarem em grandes chuvadas, de fazer piorar (ainda mais) o trânsito, e de transformar em lama toda a terra da cidade, vais desejar estar abrigadito! :o) Mas não, aqui não se usam guarda chuvas!

  2. Parece que ainda não é desta que vais converter-te ao guarda-chuva. A minha luta de tantos anos foi inglória!
    Mas, se nessas paragens não se usa, e a Migas confirma, tens desculpa, ainda és muito jovem para já pareceres “démodé”.
    Boas molhas! Não se aceitam reclamações.

  3. O seu post não seria o mesmo se fosse em Janeiro de 2007 ;)Sim sabe bem andar na chuva, principalmente chuva tropical. Tanto se está molhado como se está seco…e o calor, o cheiro da terra molhada é muito bom quando sabemos que não vamos passar o resto da vida ali 🙂

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