Negro que brilha
Afonso Loureiro
Quando cheguei a Luanda, o nome das frotas de candongueiros dava-me, na maioria das vezes, para sorrir. À primeira vista, era cada um mais parvo que o anterior. Iáces azuis-e-brancas que se distinguiam pelo nome da frota. A pouco e pouco comecei a perceber que os chavões eram a melhor maneira de fazer o táxi ficar na memória. Há diferenças nos serviços e a concorrência é feroz.
Quem circula nos carros da frota Kamikaze tem a garantia de um rádio a tocar num volume desumano, que se sente mais do que ouve. Os passageiros chegam ao seu destino surdos, mas com os músculos relaxados, tal é a massagem dos buracos na estrada e das pancadas da aparelhagem. A frota Vampiro tem os vidros fumados e passa música electrónica. Depois há os Ferrari, os Fortaleza do Guetho, os Defesa do Prenda e muitos outros.
No meio de tanta oferta, houve um em particular que me chamou à atenção. A frota dos Negro que brilha! Numa terra em que o tom da pele chega quase a ser tabu, é curioso como se usava para distinguir uma frota de candongueiros.
Brilhante!
Mas a parte mais estranha era a do brilho. O que é um negro que brilha? Porque não chamar à frota apenas Brilhante ou algo similar? Agora que sei mais das gentes e da terra que me acolhe, percebo que tinha mesmo de ser Negro que brilha. Na verdade, é quase um grito nacionalista, que não tem equivalente em mais nenhuma parte do mundo.
Desde sempre me achei capaz de distinguir os angolanos dos demais africanos. Não sabia bem porquê. Ou melhor, sabia, mas não o conseguia explicar de forma coerente. Foi durante uma conversa com os nossos técnicos que me apercebi que o verdadeiro angolano tem brilho. É um negro brilhante. Brilha no sorriso e na pele. Os congoleses são baços e os namibianos cinzentos. Tal como os guineenses são quase azuis, os angolanos são luzidios e brilham! Era esse o termo que me faltava. Agora já o consigo explicar. Há pequenas notas de cultura que não vêm nos livros e que só se aprendem pelo contacto próximo. Esta é uma delas. os angolanos comparam-se aos vizinhos dizendo que são brilhantes! Assim sendo, a frota Negro que brilha bem se poderia chamar Angolano de gema.´
É engraçado como, aquilo que parecia ser mais um nome parvo, afinal acaba por ser o mais genuíno de todos!
muito fluente o raciocínio.
Fiquei extremamente elucidado.
Muito muito bom.
saudações
http:\\coresemtonsdecinza.blogspot.com
Também sou fascinada pelas candongas. Muito típicas da cidade, espelham verdadeira cultura popular. Vou guardar uma cópia da foto na minha coleção. Parte dela está no blog, passe por lá para dar uma olhada.
Abraços
Angolano inventa!;)
Os mais orgulhosos dizem ainda q Angola, são os EUA de Africa…hehehe
É brilhante a conclusão a que chegas com o “negro que brilha”! Não sei se construiste ou desconstruiste uma metáfora, mas está muito bem visto. Engenheros!!!