O gigante silencioso
Afonso Loureiro
Em Luanda, as noites de fim-de-semana próximas do fim do mês são sempre muito agitadas. Sexta-feira já é conhecida por ser a noite em que as mulheres casadas dormem sozinhas, mas Sábado, porque não se trabalha de tarde, é o dia das festas.
Por todo o lado se ouve música alta e a quantidade de grades de cerveja que se vê circular é maior que nos outros dias.
Até altas horas da madrugada o barulho é constante. Ora é a música, ora são os carros a passar depressa, fazendo chiar os pneus no asfalto quente. De vez em quando lá ocorre uma zaragata entre gente pouco sóbria. Muitos gritos, muitos puxões, algumas garrafas de cerveja atiradas pelo ar. Vão descendo a rua, empurrando e esmurrando não interessa quem.
Os seguranças juntam-se em grupos, empunhando as armas automáticas e encarando os arruaceiros com o sobrolho franzido. Há dias em que funciona, noutros nem por isso. Depende do grau de embriaguez dos rufias.
Pelo meio, passam as motas de escape livre, cujos donos gostam de usar para fazer disparar os alarmes dos carros estacionados (ou acordar quem tenta dormir).
Mas depois, lá pelas três ou quatro da manhã, tudo muda. A cidade adormece, finalmente. Os carros e as suas buzinas nervosas deixam de circular e já nem mesmo ao longe se ouvem os raters das motas. Os pesados, que costumam desrespeitar as proibições de circular na cidade, também deixam de incomodar. O rádio dos seguranças não toca e até as máquinas de ar condicionado do salão de jogos só trabalham de tempos a tempos.
Luanda adormeceu. Parece uma pequena aldeia no interior. Ouve-se um galo. O novo dia vai começar.
“Sexta-feira já é conhecida por ser a noite em que as mulheres casadas dormem sozinhas”… e é também conhecida do Manelito pelas poucas hora de sono.