Mais-que-tudo!
Afonso Loureiro
A partida está para breve e cada vez me custa mais pensar no que deixo para trás. Acima de tudo custa-me pensar no quem deixo para trás. A minha cara-metade fica na Metrópole e eu parto para o Ultramar. Há uns anos atrás teria sido mais dramático, mas não é por isso que nos vai custar menos.
Não vão ser só as geocaches e as danças que vamos deixar de viver um com o outro. Vão ser também os carinhos e aqueles abraços que fazem sentir um quentinho dentro do peito.
Ambos sabemos que não há grande escolha. Em clima de recessão económica há que procurar trabalho onde ele houver. Passaram-se seis meses desde que trabalhei pela última vez a sério e, desde então, só tenho encontrado propostas que roçam a escravatura. Não é sobrevivendo que se vive.
Também sei que não sou o primeiro emigrante português que deixa o país à procura de melhor futuro para os que lhe dão sentido à vida. Acima de tudo, sei que podemos construir uma vida a dois mais facilmente depois deste sacrifício que é a separação física.
Bem sabemos que as comunicações agora são bem mais simples que os modestos aerogramas de há 40 anos e isso ajudará a passar o tempo. Dois anos não vão ser nada.
Amo-te Cristina!
Amo-te! Amo-te! Amo-te!
Temos de nos ajudar um ao outro a passar o tempo e claro que sim que vai passar rápido.