Trânsito
Afonso Loureiro
Em Luanda o trânsito é caótico, e poucos respeitam o código, no entanto, os semáforos são sagrados e parece que os sinais para abrandar ou parar com a mão também, ao contrário das lâmpadas de STOP. Passadeiras são apenas decoração, excepto quando alguém pára com os quatro piscas, para uma criança atravessar.
Um polícia comanda o trânsito de um lado da avenida e manda os carros avançar no preciso momento em que os do outro lado têm o semáforo verde. Como os segundos não conseguem ver o sinaleiro, gera-se o caos. Pelo meio costura um candongueiro, imune à confusão.
Pode ser que se desviem
Na rotunda, quem vira à esquerda encosta-se à direita, para ultrapassar os que se encostaram à esquerda e pretendem virar à direita. Os motociclos e ciclomotores circulam em todos os sentidos, incluíndo os diagonais, só na roda traseira e com irritantes travões chiadores. Pelo meio há peões, que se vão abrigando destes kamikazes de duas rodas entre os pára-choques dos carros que avançam metro a metro.
Um buraco mais fundo embaraça o trânsito nos dois sentidos. O que apanha o buraco e o que apanha os carros que dele se desviam.
Nos cruzamentos nunca se deixa um espacinho para os que cruzam a estrada. Se o fazem, é certo e sabido que depois ninguém deixa entrar. Lixo-te antes que me lixes a mim. Lei da selva.
Se há um acidente, pequeno ou grande, todo o quarteirão pára. Dezenas de pessoas gritam, exaltadas. À volta do acidente, todos saem dos carros. Fazem um coro e acusam um e outro condutores de ser aselhas, assassinos e filhos de empresárias em nome individual. Prometem-se pagamentos de arranjos, enxertos de porrada, feitiços de queda de cabelo ou impotência. Depois descobre-se que, afinal, não há danos. Seguem todos a sua vida, como se nada se tivesse passado. O coro de buzinas que já enchia mais o ar que os gases de escape dos carros que não desligaram o motor (quase todos) vai esmorecendo à medida que se começa a andar.
A buzina é usada quase como comprovativo de funcionamento do motor. Se está a andar, tem de buzinar. É assim que se distingue os carros apodrecidos que andam dos apodrecidos que já não andam.
Meia-hora depois, chego ao escritório… Tive sorte. Podiam ter sido duas horas. À tarde tenho uma outra dose pela frente.
Pis é. Na Luanda que eu conheci, não havia engarrafamentos. Nessa altura, durante o percurso entre a Maianga e o Aeroporto, apenas nos cruzávamos com pouco mais de meia dúzia de carros.
Outros tempos.
É por estas e por outras que eu poria a afirmação ao contrário: As outras províncias são Angola, Luanda é só (má) paisagem 😉
Paciência…
Desejo-te melhor sorte no regresso a casa.
Tchuss,
can you give here something about angolan railways?
Many thanks.
What angolan railways?
Trains stopped circulating in 1975, after the independence. They are rebuilding the network, but it will take a few years until everything is running again.
Caro Afonso,
Muito boa noite.
Parabéns por este artigo.
Como diria o outro, é só rir !!!!!
Uma experiência dessas é digna de um filme cómico ao
estilo de Bud Spencer .
Um abraço
José Vila Santa