Regresso a Luanda
Afonso Loureiro
Depois de uns meses em Luanda, o caminho entre as capitais Portuguesa e Angolana já começa a ser rotina. A indiferença quanto à companhia aérea em que viajava foi substituída pela escolha da que me oferece os melhores horários.
Agora escolho sempre o voo da noite para o regresso. Por pouco que durma, sempre chego mais descansado e menos aborrecido a Luanda.
No fim do Verão Austral, quando as nuvens descarregam as últimas gotas grossas sobre África, há pouca turbulência nas altitudes a que circulam os jactos. Nestas condições, viajar de avião ou dormir numa cadeira em casa é quase o mesmo.
Pela primeira vez escolhi um lugar na coxia. O meu objectivo não era ver a paisagem, porque era de noite. Queria mesmo descansar e poder esticar as pernas de vez em quando. À janela temos sempre de incomodar o vizinho…
No embarque em Lisboa achei estranho não haver um mar de gente a acotovelar-se na sala de espera. Estranhei não haver fila para o controlo de passaportes. Estranhei que se embarcasse em menos de dez minutos. Estava tudo demasiado calmo. Tenho de vir mais vezes nos voos a meio da semana.
Dois ou três autocarros chegaram para levar toda a gente ao avião que nos esperava no outro lado do aeroporto. Muitos lugares estavam vazios, principalmente na fila central. Alguns sortudos tiveram direito a uma cama ao longo do voo todo. Bastou-lhe levantar os braços das cadeiras.
A Lua Cheia que vimos juntos em Lisboa
A rotina a bordo é sempre a mesma. Resume-se a ler, comer, ler, dormir, ler, dormir, comer e pensar em quanto tempo falta. Um pouco antes de nos servirem o pequeno-almoço espreita-se pela janela e vemos uma fabulosa Lua Cheia sobre a asa. Como um pouco de trabalho consigo fazer uma fotografia menos má. Registei mais um momento especial.
Perto das cinco da manhã, o Sol começava a colorir o céu com manchas de laranja e amarelo. Pouco depois, com o avião a descer para o aeroporto de Luanda, começaram a avistar-se as luzes dos barcos e das casas da periferia. Mais um pouco e aterrávamos. O céu estava mais claro, mas os trópicos enganam e, quando saímos do avião, o Sol já tinha nascido. Nunca me habituarei a mudança repentina do dia para a noite.
Pouco antes da aterragem, fomos informados que a temperatura em Luanda era já de 25º. Dentro do avião, como de costume, estava gélido. É uma boa maneira de fazer as pessoas dormir. Mal nos aproximamos da porta sentimos o calor de uma atmosfera densa e húmida a bater-nos na cara. O cheiro a chuva vem logo a seguir.
Na gare, temos as formalidades do costume, desta vez com uma inovação. Duas funcionárias experimentavam o sistema novo. Olhei para elas e só pensei em Bucha e Estica. Não só pela sua aparência, porque uma fazia quatro da outra, mas também pela maneira como se comportavam. Uma dizia para experimentar assim e depois rodar o passaporte. A outra dizia que ela é que sabia. Mas nenhuma sabia bem o que fazer. Depois ao contrário. Outra vez da primeira maneira. O computador mudou alguma coisa e iniciou-se a discussão para saber o que se fazia a seguir. Acabadas as verificações, foi necessário levar o meu passaporte para outro balcão, porque ali não tinham carimbo… Escusado será dizer que fui o último a sair daquela sala.
A grande surpresa foi a sala das malas. Esperava a confusão do costume, mas encontrei a minha mala carregada de livros à espera, solitária, ao lado da esteira. Desta vez ainda passei pela alfândega, onde me abriram a mala sem grande convicção e mandaram seguir.
O motorista já me esperava lá fora e levou-me direitinho para o escritório.
Boa estadia e que passe depressa que o próximo regresso já está em contagem decrescente. É mais ou menos o que digo à minha metade que não tarda me vem buscar. É tipo mais uma voltinha nesse carrossel da vida. 😉 A viagem é sempre uma seca mas para cá tem sempre o sabor de reencontros familiares que acabam por minimizar o tempo que dura.
Nas viagens pra Luanda nunca tive essa sorte de apanhar pouca gente no avião…ia sempre apinhado de gente…E quando ia sozinha ficava sempre ao lado de pessoas que ressonavam imenso ou de bebados! Grrrr…
O que me ri com o filme da Bucha e Estica!
Tou a ver progressos..espero que continuem assim..pelo menos ate eu voltar ai! Lol.
Boa Pascoa!
De noite, a viagem à janela entre Portugal e Angola pode oferecer, mais ou menos à passagem pelo Equador, a visão de uma trovoada, daquelas bem africanas. O espectáculo oferecido pelos clarões dos relâmpagos, vistos de cima e na escuridão da noite, é verdadeiramente assombroso. É um espectáculo muitíssimo mais belo do que o que é oferecido por uma trovoada vista de terra, porque o ângulo de visão é muito mais amplo. E entretanto o avião vai deslizando pelo ar sem o mínimo sobressalto…
BOA TARDE, AFONSO,
ESTOU INDO PARA LUANDA MÊS QUE VEM, A TRABALHO. TENHO RECEIO DO CALOR QUE POSSOA FAZER POR LÁ.
UM SITE DE METEREOLOGIA INFORMOU AS MÉDIAS MENSAIS DOS ÚLTIMOS 12 MESES E EU ESTRANHEI, POIS SÃO TODAS MENORES QUE AS DO RIO DE JANEIRO (ONDE VIVO), COM UMA LATITUDE BEM MENOR…
HÁ ALGO ERRADO NESSAS MEDIAS, OU EM LUANDA FAZ MENOS CALOR QUE NO RIO???
Nunca estive no Rio de Janeiro, pelo que não me posso pronunciar acerca de qual a cidade mais quente, mas posso garantir que as temperaturas de Luanda são perfeitamente suportáveis.
As correntes frias do Sul e o planalto angolano criam condições para um clima agradável.
Bom, se você, que é europeu, está dizendo… Então acho que não devo me preocupar. Obrigada pela atenção e gentileza. Seu Blog é de muito bom gosto.
Vim ter ao seu blog muito por acaso e gostei do que li. A sua viagem fez-me lembrar a última viagem que fiz para Luanda a partir de Lisboa, Dezembro último. Sou angolana a viver em Portugal desde 1975. O meu blog a visitar http://WWW.tukayana.blogspot.com