Abandono de posto de trabalho
Afonso Loureiro
Hoje tive algum tempo livre ao final do dia. Sentei-me a ler uns jornais atrasados. Acho muito mais piada ler jornais antigos do que os do dia. A distância a que se está dos acontecimentos dá uma nova perspectiva às coisas e as notícias têm um sabor diferente.
Para além das gordas e de uma ou outra notícia mais interessante, também dei uma olhadela pelos classificados. Tentei perceber o que é preciso no país através das ofertas nos jornais. O ramo imobiliário começa agora a dar os primeiros passos e grande parte da habitação é subsidiada ou propriedade do Estado, pelo que ainda não se vê muitos anúncios de compra e venda de propriedades. Há alguns condomínios privados e habitação de luxo à venda, claro. Tal como no resto do mundo, há classes sociais que não sabem o que é a crise ou a pobreza.
Num país em reconstrução, há muitas ofertas de emprego. A maioria das empresas procura técnicos qualificados, de preferência angolanos. É sinal que já começa a haver quadros nacionais capazes de suprir as necessidades do país. Desde engenheiros até canalizadores e gestores de recursos humanos, a oferta é grande.
No entanto, foi outro tipo de anúncios que mais me despertou curiosidade. Em cada jornal que abria havia pelo menos três avisos com o título “Abandono de posto de trabalho”. Ainda é um problema sério, este de um dia deixar de apetecer pôr os pés no emprego… lembra-me as descrições de Luanda que Pepetela faz. Agora não será tão grave, mas não deixa de ser sintomático que logo o segundo artigo da Lei Geral do Trabalho contemple esta forma de rescisão com justa causa. Duas semanas de ausência sem aviso dão direito a um anúncio em jornal de circulação nacional dando três dias para apresentar justificação. O curioso é que não são só as grandes empresas que fazem estes avisos, são também as pequenas. Ao lado de um anúncio da TAAG está outro de uma padaria num dos bairros pobres de Luanda.
A construção parou, mas não deve ter sido por falta de operários
Será que as condições de trabalho são assim tão más que é necessário procurar outros meios de subsistência? Ou será aquele inconveniente do horário de trabalho ter de ser cumprido?
Por falar em horários de trabalho… tive um colega que afirmava categoricamente “que os horários são para se cumprir. Já que não se cumpre a hora de entrada, ao menos que se cumpra a de saída!”
A caminho do trabalho
Mas iniciativa e gente trabalhadora é o que não falta em Angola. Há centenas de ofertas de trabalho para cada aviso de abandono. Por todo o lado se vêem oficinas de serralharia, marcenarias, canalizadores e electricistas. Cada Kaluanda procura preencher um nicho de mercado no seu bairro.
Fábrica de tanques de lavar roupa, à beira da estrada
A publicidade imaginativa é sempre um bom meio de angariar clientes
Futebolistas e construção civil
Ainda falta percorrer um longo caminho, mas as coisas melhoram a cada dia que passa.
Será que também está previsto na lei de trabalho angolana o abandono do posto de trabalho do genro do patrão.
Meu caro amigo , agradeço que pessoas como o senhor tenham a sensibilidade de analizar as questöes que sucedem em angola, mas deixe-me salientar o seguinte: quando diz que as empresas a operar em angola requerem trabalhadores de nacionalidade angolana näo é pela sua capacidade mas sim pelas dificuldades que coloca o governo angolano em dar autorizaçöes de trabalho às pessoas que näo têm nacionalidade angolana.