Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

06 2009

Lei do mercado

Mesmo no período em que os candongueiros gozavam de uma quase impunidade, perdão, no tempo em que ainda eram mais impunes do que agora, e circulavam aos milhares por Luanda, havia alguns que resolviam aumentar a tarifa a meio do percurso, fugindo aos 50 Kz mais ou menos tabelados, ou encurtar a rota para ter mais rendimento. Mesmo com uma oferta imensa, a demanda era superior nalguns bairros da cidade e os preços das corridas subiam, causando grande descontentamento aos passageiros.

Assim que entrou em vigor o novo Código de Estrada e a polícia passou a aplicar com mais convicção as multas aos táxis, apreendendo todos os que não tinham licenças ou documentação adequada, as estradas perderam a sua característica cor azul-e-branca.

Os autocarros, mesmo custando apenas 30 Kz, só circulam nas avenidas principais e ainda não são suficientes para substituirem os candongueiros. Os poucos táxis que se mantiveram a circular aproveitaram a drástica diminuição da oferta para subir as tarifas para 100 ou 150 Kz. Os passageiros, que já reclamavam quando encurtavam as rotas, passaram a fazer grandes percursos a pé, para poupar pelo menos um táxi ou porque não conseguiam mesmo apanhar nenhum. Ver vinte pessoas encavalitadas umas nas outras dentro das carrinhas voltou a ser vulgar.

Aos poucos, muitos dos candongueiros que deixaram de circular no final de Abril, foram voltando às estradas. As grandes aglomerações de gente desesperada por voltar a casa ainda são frequentes nas paragens habituais, mas começam a diminuir, assim como o número de passageiros com lugar ao colo. A oferta aumentou e os preços desceram um pouco. A norma agora é 100 Kz.

Na Mutamba, onde há a maior paragem de autocarros da cidade, os candongueiros começam a sentir a concorrência dos transportes públicos oficiais. Começa-se a ouvir, misturado no pregão que anuncia o destino, o preço máximo do percurso. Alguns voltaram até ao preço antigo:

«Sã-Pá’lo! Sã-Pa’lo! 50 Kwanza todo o lado!»

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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