Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

15  06 2009

O fim

Já muitas vezes me perguntei como será o fim do Aerograma. Como se termina uma coisa que sabemos nunca estará completa? Como se diz que este será o último artigo?

Ao longo dos últimos tempos tenho assistido ao fim de alguns blogs dedicados a Angola. Os seus autores partiram para outras paragens ou descobriram novos interesses. Terminam quase sempre com um artigo de despedida e deixam a sua obra num limbo cibernético, esperando a nova entrada que nunca chegará.

Quando a estadia programada chegar ao fim, o Aerograma irá fechar, naturalmente. Tenho vindo a pensar mais vezes no que será o último artigo, em como será a despedida. Espero que não seja algo de nostálgico, porque esta é uma terra de futuros e sorrisos brilhantes. Ou talvez não feche e mude só de cara e de tema, mas não será mais o Aerograma escrito em Luanda acerca de Angola. Haverá milhares de assuntos que mereciam ser tratados ou revisitados, mas terão de ficar assim, porque não faz sentido escrevê-los fora da terra.

Tem sido uma experiência de vida ímpar, com contrariedades e alegrias que nunca serei capaz de descrever completamente. É por isso que o último artigo do Aerograma fechará apenas um capítulo. O resto da história ficará por contar. E sentir.

Não foi a antecipação de algo que ainda antevejo distante que me levou a escrever este artigo. Foi mesmo porque parte do Aerograma chegou ao fim. Acabou-se. Não sobrou mais que uma capa dobrada e algumas folhas garatujadas com notas indecifráveis. E o número de telefone de um polícia do Dondo.

Fim
Acabou

A versão de bolso do Aerograma, aquela que me acompanhava a todo o lado para receber notas e esboços de artigos, quando não mesmo artigos inteiros, foi emagrecendo à medida que a edição electrónica engordava. Acabou por dar o seu último suspiro. Está na altura de comprar outro.

A propósito, há um ano que estou em Angola…

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

13 respostas a “O fim”

Nota: Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados.
  1. Afonso,
    Foi realmente uma pena não tê-lo conhecido pessoalmente enquanto ainda morava em Angola. Acompanho caladinho seu blog há exato um ano, quando me preparava para ir praí. E, hoje, ele é um portal para me manter ligado nesta terra tão querida. Não deixe o blog morrer, como estamos tentando fazer com o Casa de Luanda. Um forte abraço e siga firme na luta.
    O X.

  2. Até me assustei quando comecei a ler esta entrada..

    Deste lado estamos sempre à espera do próximo aerograma vindo de terras longínquas com estórias de uma realidade tão diferente da nossa mas ao mesmo tempo tão parecida em tantos pontos.
    Haverá uma altura que chegará o último aerograma mas até lá continuaremos a deliciarmo-nos com a tua escrita.

    um grande abraço

  3. Até me “assusti” com o princípio do post… xisca! Não sei como vai ser, estou tão habituada a ler-te, que vou concerteza sentir falta dos teus aerogramas.

    O meu homem está em Angola, piloto num desses muitos barcos (ele que não me oiça dizer barcos, são navios..) que povoam o porto de Luanda rumo às plataformas, e cheguei aqui reencaminhada pelo Diário da África quando procurava informações desse lugar. Desde então, e já deve fazer um ano sim, todos os dias aqui venho deitar um olhinho. Nunca escrevi nada, mas hoje, perante o susto, tive que deixar uma palavra de apreço, e se as histórias de Angola terminarem, por favor, inventa lá outra coisa e brinda-nos com outras paragens, seja o que fôr, mas venha daí esse sentir.

    E termino, com um Obrigada gigante. Fica bem!

  4. Caro Afonso,

    O aerograma, também conhecido por bat’estradas entre os soldados, era uma espécie de internet da tropa portuguesa. Era uma folha amarela que se escrevia no sentido horizontal, vertical, a atrevessar, ao comprido, dobrava-se pelas linhas e colava-se (com cuspo), ficando com o formato de um pequeno envelope. Escrevi alguns aerogramas à minha namorada e ainda hoje recordamos isso.
    Não sei o que levou o Afonso a baptizar o seu blog de aerograma, mas ainda bem que o fez, pois foi pelo nome que aqui cheguei. Claro que só o nome não seria razão para voltar todos os dias. Acontece que encontrei uma boa escrita, espírito crítico muito apurado e óptimas reportagens. Foi por isso que me tornei leitor habitual e estou-lhe grato.
    É tudo por hoje(alonguei-me de mais), mas a despedida, essa, ainda vem longe. Ainda há muito bat’estradas pela frente!
    Elmiro

  5. E que o próximo ano seja igualmente inspirador e produtivo 🙂 Satisfeita por ainda “nos” restar (a quem te lê diariamente) imensos meses de posts interessantes.
    Abraço***

  6. Afonso:
    passei para ver qual era o lanche de hoje… sou uma gulosa profissional (risos).
    Mas agora falando sério, se o vício de escrever ou de recortar fragmentos lhe pegou (o mal de montano) teremos aerogramas, penso, vindo de outras paragens quando daí de Angola você partir.
    Minha experiência como bblogueira é curta (faz uns 14 meses). Fechei o redefurada por completo uma vez… fiquei uns 3 meses sem postar e depois voltei.
    abraços, boa sorte!

  7. Quando comecei a ler fiquei preocupada…tem sido tão interessante “ouvir” o que nos transmite que lhe digo: não desista. Como já teve ocasião de ver tem os seus leitores e uma excelente prosa. Continuo a passar por aqui para ouvir os seus aerogramas.
    Bom trabalho e boa sorte!

  8. O nome Aerograma demorou alguns dias até ser o escolhido, mas julguei ser o que melhor descrevia o objectivo do blog. Comunicar com quem ficava em casa.

    Um dia contarei melhor a história.

  9. Eu sei que sou suspeita para tecer considerações sobre a tua prosa fluente, o teu olhar sensível e crítico, mas depois de ler tantos comentários encorajadores, de leitores insuspeitos, só posso dizer-te que valeu a pena escrever tantos “aerogramas”.
    De quantos mais blocos de apontamentos precisas?!!!!!!!

  10. Eu nem queria voltar a comentar antes de aí chegar! Ando no quase, que vai estando cada vez mais quase, mas ainda não foi.

    A palavra fim é só por si assustadora e por isso todos os que comentaram revelaram alguma aflição pela possível perda dos seus aerogramas, que está provado que vão chegando mais longe do que imaginaria quando se aventurou nesta caminhada escrita que nem pretendia que fosse além fronteiras familiares ou conhecidas. Mas quando se escreve bem e na escrita se coloca o que em nós fervilha, ela cativa e torna-nos cativos. De alguma forma a escrita é também uma forma de descoberta do “eu” que nem sempre vem à tona e vai-nos alimentando com a seiva que se produz e funciona também como terapia. Talvez por isso tudo o tenha agarrado e nos tenha agarrado a nós que o lemos.
    Já várias vezes teci elogios a este seu cantinho que ajuda muitos que por aqui passam. Não só a quem se possa encontrar em situações idênticas à sua, como também a quem já regressado, que não queira perder o fio ao que desse lado ficou para trás. Mas também a todos os que nem numa situação nem noutra, saibam reconhecer uma escrita sensível, cuidada, inteligente e que toca.
    Eu espero ainda ler muito do tudo que nos possa contar desse país, já estou é apreensiva só de antecipar o tempo que por aí vá ficar e chegue a hora de abrir esta página e ver que este espaço parou. Se isso por um lado deixará muitos tristes, por outro esse fim vai ser uma alegria para quem à sua espera, vir o fim destes tempos sempre duros de separação. Logo há fins que são alegres e para que seja um happy end deste seu percurso de vida, não páre de nos brindar com aerogramas do lado de cá, porque garantidamente para quem aí ficar será tão importante saber do que por cá vai acontecendo como agora é para quem cá está, ir sabendo do que se passa aí. Faça-nos lá esse favor. Se bem que aí possa até ajudar a passar o tempo que bem sabemos tem dias em que deve custar mesmo a passar, aqui há muitas coisas aliciantes onde o gastar, mas bem esticadinho lá vai por certo arranjar um post de vez em quando para matar saudades à gente.
    Um ano é buéeeeeeee para se estar longe de quem gostamos!!!!! Eu ao fim de um ano aí longe dos meus filhotes já devo estar completamente cacimbada de saudadesssss!!!!!!
    Coragem para o resto da empreitada e vá-se entretendo a escrever que aqui a gente agradece.

  11. Puxa, quase que me dava o piripac ao ler a entrada do aerograma!

    Eventualemente o fim há-de chegar mas até la continue com o optimo trabalho a escrever aerogramas que a malta lê com todo o gosto!

    Já agora quer que lhe envie uns blocos de apontamentos?! Aqui certamente são mais baratos hehheh

    Abraço!

  12. Espero que não acabe o aerogramama pois sou leitor habitual e como estou interessado em trabalhar em Angola, acho as historias muito interessantes.

    abraços e bons aerogramas

  13. O Aerograma não pode terminar…

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