Surreal, mas plausível
Afonso Loureiro
No final de um dia de trabalho, o trânsito da cidade até está a escorrer de uma forma bem mais fluida que o habitual. Os cruzamentos, que costumam estar atulhados de gente impaciente com o dedo na buzina e a gesticular para os demais condutores, parecem vazios.
De repente, tudo parado. No único sítio onde se costuma andar sem preocupações há até angolanos com o motor desligado, o que é algo de completamente inédito. Faço o mesmo e espreito por entre os carros lá para a frente. Nem acredito nos meus olhos. Numa rua estreita e de sentido único, com um sinal proibindo o trânsito a pesados logo à entrada, está um camião com um contentor de quarenta pés a fazer uma inversão de marcha. Obviamente que ficou encravado. Só o reboque tem mais de comprimento que a rua de largura sem os carros estacionados nas bermas.
Dois polícias de trânsito aproximam-se da rolha e ficam a ver. Não ajudam à manobra nem reclamam que não pode circular naquela rua e muito menos no sentido errado.
Antes um Unimog que uma Hiace
Como ainda tenho escolha, estaciono o carro ali mesmo e faço os restantes quarteirões a pé. Quando o camião se for embora vou lá buscá-lo, que a coisa ainda demora.
O estranho é nada disto espanta ninguém. Aliás, nem eu fico espantado.
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