Acordo ortográfico
Afonso Loureiro
Porque considero que a noção de Pátria vai mais além que as questões geográficas do local de nascimento, e que engloba toda uma matriz histórica e cultural, da qual a língua é dos seus principais bastiões, recuso-me a aceitar o acordo ortográfico que hoje entra em vigor. O Aerograma passará a ostentar numerosos e variados erros ortográficos até que este acordo tenha o destino do anterior.
Sinto que é mais uma tentativa de diluição daquilo que, há nove séculos, mantém um país uno e independente. Não é o facto de se mudar a grafia de algumas palavras que me choca, é a tentativa de unificar duas coisas que são parecidas, mas que nunca serão iguais. Um acordo ortográfico que pretende acabar com a dupla grafia, mas que não leva o trabalho até ao fim vai gerar tanta confusão que ninguém saberá mais como se escreve. Penso neste acordo e imagino alguém a decidir mudar o nome da cor vermelha para verde. Ambas as cores continuam a existir mas, às tantas, os semáforos passarão a ser bastante mais confusos.
As diferenças entre o Português falado na Europa e o falado nos diversos cantos do mundo são maiores do que apenas ortográficas. São diferenças gramaticais e, acima de tudo, culturais e essas não se conseguem disfarçar com uma ortografia comum.
Não é por passar a escrever humidade sem h que vou sentir que a língua que escrevo é exactamente a mesma que os brasileiros escrevem, aliás, ainda bem que não, porque ler um texto escrito por um brasileiro tem muito mais gosto se for lido com o ritmo do brasileiro e a diferença de grafia nunca prejudicou ninguém a perceber o sentido, mas mais facilmente entrou no ritmo certo. Gosto de Eça e Jorge Amado e gosto de ler cada um deles com o seu paladar de Português.
Não é por deixarem de usar o trema que os brasileiros vão perder o seu sotaque ou deixar de usar os pronomes antes dos verbos. As pequenas diferenças na língua que nos une são essenciais para que cada um ganhe a sua noção de Pátria. Não é por escrevermos algumas palavras da mesma maneira que nos vamos sentir ao pé de um compatriota ao ouvirmos falar uma das versões da língua. Será motivo de conversa, mas sabemos perfeitamente que a matriz cultural é diferente. Faltarão algumas referências que damos por adquiridas. Brasileiros continuarão a sentir-se mais à vontade entre brasileiros que portugueses e angolanos sentir-se-ão mais à vontade entre si.
Não há acordo que ensine a escrever
Por outro lado, é um acordo que gera exclusão. Foi decidido entre Portugal e Brasil e aos restantes países de expressão portuguesa apenas lhes restou o papel de aprovar ou reprovar.
Por alguma razão há várias grafias para Inglês, Francês e Castelhano. Cada recanto do mundo tem a sua versão própria de uma língua comum. São diferenças reconhecidas por todos e por todos aceites. As semelhanças criam laços entre os povos, mas as diferenças criam afinidades entre as pessoas de cada comunidade. Fico com a sensação de que este acordo quer inventar a roda.
Ensine-se as pessoas a escrever a sua versão da língua, que depois cá nos entendemos a percebermo-nos uns aos outros.
Caro Afonso,
Assino por baixo de tudo o que deixou escrito acima. Quero continuar a ler os escritores brasileiros em português do Brasil e os escritores portugueses em português de Portugal e que o José Eduardo Agualusa escreva no português que melhor lhe fique.
Um bom 2010. Um abraço.
Subscrevo integralmente.
Gostaria de dizer que estou contra qualquer acordo que vise parametrizar questões culturais. A língua é património de um povo o que significa que não pode ser imposta por decreto.
Quanto a mim, creio que já não tenho idade nem tempo para reaprender a minha língua.
E isto significa que dentro de algum tempo vou passar a escrever com erros ortográficos, coisa que não me agrada.
Sempre me revoltei comigo mesmo quando, por falta de cuidado ou ignorância escrevo de forma incorrecta.
Bom dia.Concordo que unifiquem a lingua ” a escrita da lingua” mas por favor não deixem que se escreva no brasil:
indenizar,onipotente,covarde e ou que permitam que se escreva das duas formas ,senão jamais a lingua será unificada.O que se passa no Brasil é um problema do Ministério da Educação do Brasil,nas escolas nem a gramática estudam mas apenas vocábulos.O Brasil se quer usar a lingua Portuguesa e ninguem os obriga até podem falar espanhol e ou “”americanês”” então que a falem e a escrevam mas que a usem bem.
Abraço
Gentil