A gramática do rico e do pobre
Afonso Loureiro
Após aturadas investigações aos hábitos e costumes dos habitantes desta Luanda que nos acolheu, podemos finalmente distinguir o que separa os angolanos que têm muito daqueles que têm quase nada.
Pusemos a hipótese de ter a ver com a filiação partidária, como muitos defendem, mas cedo descobrimos que muitos militantes do partido no poder se enquadram na categoria dos que nada têm, da mesma forma que alguns militantes dos partidos na oposição se podem considerar, no mínimo, bem remediados.
As diferentes origens étnicas ou tribais, apesar de invocadas nas discussões da mesma maneira que se acusam todos os estrangeiros brancos, amarelos e cinzentos de racismo quando faltam outros argumentos, também não são o factor que decide quem tem vida de rico. Há ricos e pobres de todas as etnias e cores.
Chegámos à conclusão que tudo se resume à maneira como se conjugam determinados verbos. Em abono da verdade, foi o R. quem conseguiu sintetizar de uma forma quase perfeita as diferenças entre os ricos e os pobres em Luanda.
Angola, pelo menos em termos de recursos naturais, é um país rico. A melhoria das condições de vida das populações depende essencialmente da maneira como essa riqueza é transferida da terra para as pessoas. No fundo, da maneira como os dinheiros públicos são devolvidos aos cidadãos.
O problema da distribuição da riqueza está neste verbo. É que há uns quantos que acham que devolver se conjuga assim:
«Eu de Volvo
Vós de Hiace
Eles a pé»
Eu de Volvo
Entrando no espírito do presidente angolano, que declarou tolerância zero à corrupção, há que ensinar gramática a muita gente.
Vós de iáce
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