Efeitos secundários do Congresso
Afonso Loureiro
A previsível dança de cadeiras nos ministérios e governos provinciais que ocorrerá no congresso do MPLA não deverá afectar muito as actuais linhas de actuação do governo. Os ajustes na hierarquia do poder perturbarão um pouco as esferas de influência de cada um e, até que um novo equilíbrio seja estabelecido, haverá uma luta de bastiadores em torno dos elos mais fracos. Tais alterações não trarão grandes diferenças na vida dos angolanos, ou mesmo dos estrangeiros que cá trabalham. Cada um procurará descobrir novos atalhos na cadeia do poder e depressa voltará tudo ao normal.
A faceta mais interessante do congresso do MPLA também não é o lavar de roupa suja entre figuras do Estado ou alguns antigos militantes de referência virem a público renegar o partido pelo qual deram a cara muitos anos.
Nem mesmo nos espanta que a indistinção que existe entre o partido e o Estado seja de tal ordem que o congresso se torne mais importante que as instituições oficiais. É aqui que realmente se define o rumo do país e não na assembleia nacional.
As principais alterações na vida do dia-a-dia dos angolanos, especialmente da quase metade da população que vive na capital não se prendem com os novos embaixadores ou os ministros e governadores exonerados ou nomeados, nem sequer com os bonitos discursos do presidente do partido prometendo lutar determinadamente contra a corrupção.
Graças ao congresso de um partido, a capital pára. O cortejo de militantes, ministros, governadores, generais e, acima de tudo, do presidente do partido e da república obriga a que, num acesso de vaidade disfarçado de desconfiança, se cortem as principais vias de acesso do centro da cidade ao Futungo de Belas durante as horas de ponta, com direito a milhares de militares armados com metralhadoras de grande calibre, granadas e cara de mau.
O Congresso
O congresso, que deveria afectar apenas os que a ele estão directamente ligados, acaba por se fazer sentir por todos quantos tentam chegar a casa ou emprego. Os percursos de poucos minutos transformam-se em odisseias de horas em marcha lenta ou parada, sob os auspícios das forças de segurança afectas ao congresso. Como sempre, ninguém desliga o motor do carro. Após a primeira experiência, todos os que podem passam a sair mais cedo do trabalho para não passarem o resto da tarde no trânsito. A produtividade vem por aí abaixo.
Dezembro já é conhecido por ser a época em que menos se trabalha, mas a data escolhida para o congresso adianta em cerca de duas semanas a habitual paralização do país na quadra festiva. A luta continua!
Ora pois! Era a isso que me referia quando ali mais abaixo falei em comemorações! É que mais parece uma semana de festa no desfilar que me contam que para aí vai, assim como tão bem descreveu. Nem podia rematar melhor! A luta continua e continuará que logo a seguir deve ser mais confusão a montes com o CAN. Inté já me estou a ver a suar!!!!!! É o salve-se quem puder!