Pisadelas, palmadas e pontapés
Afonso Loureiro
Quem vive num grande centro urbano, mesmo que seja no coração de África, acha que a vida selvagem é algo de parecido com o que se vê nos jardins zoológicos. Longe do pensamento está também dar de caras com alguma dessas feras, até porque são precedidas por histórias de arrepiar cabelo que lhes dão fama de sanguinários. Leões e jacarés são giros, mas é lá longe.
Cá em casa não nos podemos queixar de falta de interacção com a fauna angolana. Pisadelas, palmadas e pontapés são o modo mais frequente de reagir às investidas das feras que insistem em visitar-nos. Entre mosquitos sedentos de sangue, baratas a fugir dos esgotos ou pequenos ratinhos a fazer barulho atrás dos móveis, há muito por onde escolher, até porque a vida selvagem africana não se resume à que os caçadores gostam de exibir como troféus. Imagino já um caçador a mostrar, orgulhoso, um mosquito empalhado ou a cabeça de um grilo na parede.
Temos também um buraquinho qualquer, que ainda não descobrimos onde, suficientemente pequeno para só deixar passar ratos do tamanho de um polegar. Como aconteceu em Janeiro do ano passado, as chuvas de Verão multiplicaram o número de ratos na cidade e somos novamente confrontados com a invasão de uma ninhada de ratos inocentes e, apesar de cobertos de pêlo, imberbes. Nunca aprenderam a conviver com os humanos e abusam. Tirando um ou outro afortunado que se esgueira para não sabemos onde, os restantes não chegam a velhos e acabam debaixo de um chinelo, corridos à vassourada ou com um pontapé estratégico em direcção à porta aberta da varanda, naquilo a que chamamos de futerrato.
Estas sessões de violência mustelídea decorrem quase sempre em horário de expediente, mas abrimos excepções quando um deles se lembra de ir escarafunchar atrás de uma cama e não nos deixa dormir. Revolvemos o quarto até o apanharmos. Nas últimas semanas já tivemos de lidar com quatro destas feras…
A repousar
Digo já que acho muito mal andaram a matar violentamente ratinhos infantis.
Voto numa solução mais pacífica: capturem-nos, façam colecção, vão-lhes ensinando truques e quando acabar o contrato de trabalho aí podem iniciar um circo itinerante de ratos domésticos amestrados.
À conta destes visitantes lá parti mais uma vassoura. Se eu acertasse menos no chão e mais na “bola”… 😀
Ao menos dá para rir um pouco da realidade em que vivemos. Por acaso dos pequenos roedores ainda não tivemos o privilégio da visita, apenas os vemos da janela, mas temos umas baratitas tipo “comboio” e umas osgas ou sardões.
Embora tenhamos conseguido diminuir o tamanho das baratas, extingui-las ainda não foi possível, nem sabemos se algum dia será.
Lembro-me da segunda noite que a minha mulher aqui chegou em que “fugiu” para o quarto dos nossos filhos porque tinhamos uma gigantesca osga mesmo por cima da nossa cama e das noites que nem se levantava para ir ao wc por causa das baratas gigantes, agora, e como não podía deixar de ser já se habituou ás nossas estranhas hóspedes.
Bem…como se costuma dizer “isto é Angola”.
Ó Ricardo, a ideia de usar a vassoura é apanhar o rato, não desfazê-lo à pancada, a vassoura não é um taco de basebol 😉
Posso confessar que já fiz o meu baptismo e apanhei um… sem partir a vassoura claro 😉