Arte popular
Afonso Loureiro
Há uns meses reparei num par de pinturas murais muito interessantes na Rua da Rainha Ginga. Por uma razão ou por outra, nunca tive a oportunidade de os observar de perto, mas o contraste que faziam com o meio envolvente estimulou-me a curiosidade de tal modo que não resisti a fazer uma viagem de propósito num Domingo mais sereno.
Foi uma excursão proveitosa. São duas pinturas executadas em 2004 por um antigo morador do prédio, com dedicatória e tudo. Têm sido cuidadas e respeitadas como obras de arte que são. Ainda não se lhes vêem palavras garatujadas em cima ou tapadas por publicidade a canalizadores e pedreiros.
Numa parede vemos a Kianda nadar com golfinhos no pôr-do-Sol. Gaivotas fazem piruetas sobre uma caravela e o que aparenta ser um drakar viking aparelhado com uma vela latina. Nenhum dos barcos tem gente a bordo, pelo que apenas posso concluir que a Kianda é uma sereia de verdade e atraíu os marinheiros para a morte com uma canção – um semba, talvez.
A segunda pintura mostra Belerofonte combatendo a Quimera, no mesmo estilo simples que a da Kianda, na parede oposta.
Uma das coisas difíceis de desenhar são cavalos. É irónico que o Homem dependa deles há milhares de anos, mas ainda não sabe muito bem como os pintar. O pintor não se intimidou com este facto e conseguiu desenhar uma parte equina do Pégaso bastante boa. Peca nos sítios habituais, mas não deixa de ser melhor que muitas que tenho visto. A Quimera, com a sua profusão de bestas misturadas deve ter sido um desafio, mas também saiu bem desenhada.
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