Uma década
Afonso Loureiro
O tempo é uma coisa estranha. A cada instante vivemos o presente e temos a convicção de que houve um passado e haverá um futuro, embora não possamos voltar ao passado para confirmar que alguma vez tenha existido nem ir ao futuro e regressar para contar como será. Até poderá acontecer que o tempo não exista e que apenas o imaginemos.
No espaço físico não temos essas limitações. Podemos andar para trás e para diante, fazer observações em vários pontos no mesmo instante, medir distâncias e, se usarmos a noção de tempo, calcular velocidades e acelerações, comparar medidas anteriores, fazer contas e tentar perceber o mundo.
O tempo não pára
O tempo comporta-se como um referencial exterior ao qual não temos acesso. Não fazemos a mínima ideia se o tempo anda depressa ou devagar porque a única medida fidedigna de que dispomos é o presente, todas as outras fazem parte da memória. Por isso é que há alturas em que o tempo passa devagar e outras em que passa a correr.
A última década passou por mim a correr. Ao recordar o que aconteceu nestes dez anos tenho a certeza de que houve alturas em que o tempo passou devagar mas agora, vendo o panorama todo, concluo que foi apenas um instante, um acumular de acontecimentos que culminaram neste instante a que chamo de agora e neste a quem chamo Eu.
Como todos os instantes são o presente, não faria sentido pensar na última década de forma aleatória. É preciso escolher um ponto na memória do passado em relação ao qual amarro o meu presente. Esta década começou no dia em que o meu pai morreu. Continuo sem acreditar que já passaram dez anos.
O tempo não pára mesmo… e apesar de a medida ser bem definida em segundos, minutos, horas… e sabermos que um um minutos são 60 segundos, há situações na nossa vida em que sentimos que passou a correr e outras em que o tempo custa tanto a passar.
Quando estás longe o tempo passa tão devagar…
O regresso está para breve!