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10  03 2010

Se Maomé não vai aos correios

Os Correios de Angola funcionam de uma forma pouco ortodoxa devido às circunstâncias especiais do próprio país. As moradas confusas, o desmoronar de estruturas e a aplicação da teoria angolana da resolução de problemas assim o ditam.

As empresas que querem entregar facturas, por exemplo, acabam por fazê-lo em mão, enviando um motorista fazer o serviço que competiria aos correios. É um desperdício de recursos, mas é a única maneira de garantir a entrega.

Quem quiser receber cartas necessita de arrendar uma caixa postal. De outra forma nunca receberá a correspondência. As empresas detêm quase o exclusivo dos apartados pois são as únicas que recebem correspondência em quantidade suficiente que justifique o custo do arrendamento. Mas as empresas costumam localizar-se nas zonas nobres das cidades, onde ainda há um resquício de toponímia, pelo que não seria de todo impossível que se lá entregasse correspondência, como num serviço de correios normal.

CTT
Correios, Telefones e Telégrafos

Cabe às empresas ir verificando os apartados para recolher a correspondência que entretanto tenha chegado, mas, como nem sempre se esperam cartas, podem-se passar meses entre cada visita. É nestas situações que tudo se torna um pouco surreal. Se a correspondência se for acumulando porque o destinatário não a vai recolher, os correios entregam-na.

A teoria angolana da resolução de problemas funciona. Quando a correspondência começa a ocupar demasiado espaço na estação de correios é mais fácil ir entregá-la ao cliente do que andar aos saltos por cima dos sacos. Pelo menos não se faz como no Cairo onde há a queima mensal do correio não entregue.

Proponho um novo lema: “Correios de Angola – Se não vem buscar, nós entregamos”.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

4 respostas a “Se Maomé não vai aos correios”

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  1. O surrealismo da situação descobri-o na altura do natal, quando os nossos CTT, aqui em Portugal, me aceitaram uma encomenda para Luanda, garantindo a sua entrega. o destinatário, andou 3 dias de estação de correios em estação de correios na capital angolana, tentando encontrar a dita encomenda! Finalmente descobriram-na e, para a levantar teve que pagar 40.000, de custos de armazenamento, fora a “gasosa” da praxe, ainda por cima por ser Natal!
    Um filme, mesmo!

  2. Nem tudo era mau no tempo colonial. Então os correios funcionavam à maneira. Mas certamente que os males de hoje continuam a ser culpa dos colonos de antanho.

  3. Se fores aos correios ainda encontras o postal que te enviei há 2 anos…:P

  4. Giro é recebermos no nosso apartado nº XYZ a correspondência destinada à Rua Rei Katyavla nº XYZ, e recebermos a que nos é realmente endereçada com meses atraso. Nem os apartados funcionam bem…

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