Ao menino e ao borracho
Afonso Loureiro
Na estrada para Malange, logo a seguir a uma ponte militar que substitui a ponte dinamitada nos anos da guerra civil, um Toyota Corolla entra na estrada de uma forma um pouco descontrolada. Segue fora de mão por umas dezenas de metros, mas corrige a trajectória antes da curva.
Na recta seguinte, sem trânsito ou buracos traiçoeiros, o condutor deixa uma roda fugir para a berma e perde o controlo do carro. Uns segundos depois, em jeito de conclusão da sequência de guinadas e pulos, o carro desapareceu aos trambolhões pelo capim do talude, que de imediato recuperou a compostura e escondeu o carro. Se não o tivessemos visto despistar-se à nossa frente, nunca adivinharíamos que ali dentro estava um carro.
Engolido pelo capim
Parámos nas imediações do acidente e descemos para socorrer os ocupantes. O carro tinha capotado várias vezes talude abaixo e o monte de sucata em que se tinha tornado fazia antever feridos graves.
Feito num oito
Ao descer o talude fui gritando para saber se havia alguém consciente. Ninguém respondia. Aproximei-me do carro e, numa imagem retirada da banda desenhada, reparo num homem de calções e camisa amarela sentado de pernas abertas no meio do capim a uns metros do carro. Quis saber se estava bem. Após uns segundos de desorientação perguntou-me:
«Esse é o meu carro?»
«Sim, acabou de sair da estrada. Está ferido?»
«Outra vez? Mas eu até vinha a travar…»
Levantou-se e percebi que estava inteiro. Depois daquele acidente aparatoso não tinha um arranhão. Sem cinto de segurança, foi cuspido antes do tejadilho do carro bater numa árvore num inacreditável golpe de sorte. Perguntei se precisava que o levássemos a algum lado, mas disse que uns amigos já vinham ter com ele. Quando chegámos ao topo do talude lá estava um carro parado à espera do acidentado.
Lá diz o provérbio que “Ao menino e ao borracho, Deus põe a mão por baixo”.
Comentários para quê? :))))) :)))))).
Só me apetece rir! Lol!
Neste caso, por baixo, por cima e dos lados…